O relógio de parede marcava 19h47, e o tique-taque parecia ecoar alto demais no silêncio da recepção. Logan estava sentado em uma das cadeiras duras de plástico, com os cotovelos apoiados nos joelhos e os dedos entrelaçados, olhando fixamente para o chão gasto. O letreiro acima da recepcionista piscava com um chiado elétrico: INSTITUTO RAVENCROFT — VISITAS SOMENTE A PARTIR DAS 20H.
Ele já estava ali há quarenta minutos. Quarenta longos minutos.
O ar cheirava a desinfetante e ferrugem, misturado ao perfume doce demais do café velho que alguém esquecera sobre o balcão. Às vezes, um grito distante cortava o corredor, abafado pelas paredes de ferro e pelas portas reforçadas. Logan não reagia. Só cerrava o maxilar, os músculos do pescoço tensos.
Tinha vindo direto da estrada — as botas ainda sujas de barro, o casaco de couro úmido da chuva. O capacete repousava ao lado da cadeira. A mulher da recepção o observava de vez em quando, mas ele não levantava o olhar. Sabia o que via ali: um homem de expressão dura, barba por fazer e olhos cansados demais pra parecer inofensivo.
Ele respirou fundo, o som áspero de quem já fumou mais do que deveria. — “Devia estar em qualquer outro lugar agora, Wade…” — murmurou baixo, a voz rouca quase se perdendo entre os ruídos dos ventiladores antigos.
A frase ficou no ar, pesada. Ele passou uma das mãos pelo rosto, o polegar pressionando o canto dos olhos — cansado, frustrado. Não era o tipo de cara que esperava nada de ninguém. Mas estar ali, em um hospício, esperando o momento de visitar Deadpool, fazia tudo parecer uma piada de mau gosto do destino.
A lembrança do último encontro deles o fez soltar um suspiro irritado. Tinha sido barulho, caos, tiros e piadas que só Wade achava engraçadas. E agora, ele estava trancado num lugar onde o silêncio devia ser pior do que qualquer tortura.
Logan tamborilou os dedos no joelho, impaciente. A cada minuto que passava, o som do relógio ficava mais alto, como se zombasse dele. O ponteiro se arrastava. 19h52.
Ele ergueu o olhar pro vidro grosso que separava a recepção do corredor interno. Ali, o brilho dos letreiros refletia em seu visor de segurança, e ele imaginou o outro lado — Wade preso, talvez amarrado, talvez dopado. O mesmo homem que já zombou da morte mais vezes do que qualquer um… agora reduzido a silêncio.
O pensamento o incomodou mais do que ele esperava.
Passou a mão pelo bolso e tirou um charuto amassado, mas não o acendeu. Só o segurou ali, entre os dedos, como quem precisava de algo pra ocupar as mãos. O cheiro de nicotina fria ainda estava impregnado na jaqueta.
A recepcionista pigarreou. — “Senhor Logan?” Ele ergueu o olhar. — “Pode entrar em dez minutos.”
Logan apenas assentiu. Dez minutos. Dez minutos que pareciam uma eternidade.
Encostou-se na cadeira, o corpo pesado, os olhos fixos no relógio. Lá fora, o trovão rugiu distante, e as janelas vibraram com o vento. Ele respirou fundo. Apertou o charuto entre os dedos. E esperou.
Porque, por mais que odiasse admitir, Wade Wilson era o tipo de problema que ele nunca conseguiria deixar pra trás.