O impacto ainda pulsava sob seus pés.
Lúcifer permanecia imóvel no centro da cratera, o ar ao redor ondulando como se o próprio Inferno hesitasse em tocá-lo. Seu corpo, outrora forjado na pureza celeste, agora fumegava como carvão divino, rachado pela queda, cuspindo cinzas douradas. Ele não se movia por dor — mas porque tudo que vinha depois daquela queda parecia pequeno demais para merecer pressa.
O céu havia o esquecido. E ele, pela primeira vez, não sentia nada.
As asas, reduzidas a ossos e penas calcinadas, pendiam às costas com uma humilhação muda. O orgulho, sua armadura por milênios, parecia ridículo agora — despido de tudo, inclusive do direito à raiva imediata. Havia silêncio. Não um silêncio externo, mas aquele que vem quando até os próprios pensamentos se recusam a olhar para si.
Ele não chorou. Nem caiu de joelhos. Lúcifer não implorava. Mas estava quebrado.
Aos poucos, o olhar ergueu-se. A vastidão infernal se descortinava diante dele — um mundo moldado para punir, corromper e consumir. E mesmo assim… era dele. Sem coroação. Sem celebração. Apenas ele, e a consequência do que escolheu ser.
E foi nesse momento que a voz interior — que o havia seguido desde o princípio — sussurrou algo amargo:
— “Você venceu.”
Mas por que então… tudo doía tanto?