A fazenda Kent estava silenciosa naquela tarde, o tipo de silêncio que Clark sempre achou reconfortante — o farfalhar das folhas, o rangido distante do celeiro, o som abafado do vento contra a madeira. Mas, naquela tarde, esse mesmo silêncio parecia mais pesado.
Clark estava sentado nos degraus da varanda, as mãos entrelaçadas, o olhar fixo no horizonte dourado de Smallville. As botas cobertas de poeira, a camisa de flanela arregaçada nos braços. O uniforme estava guardado — hoje, ele não era o Superman. Tentava ser algo muito mais difícil: um pai.
Dentro da casa, Conner estava. E Clark ouvia tudo — o som de passos inquietos, um suspiro frustrado, talvez até um resmungo. O garoto tinha passado o dia inteiro evitando-o. E ele entendia. Conner não pediu pra existir. Não pediu pra ser um clone, nem pra carregar metade do DNA de um homem que ainda aprendia a lidar com o próprio.
Clark respirou fundo, olhando para o campo. Ele se lembrava do primeiro momento em que viu o garoto — o olhar desconfiado, a raiva contida, a necessidade de provar que era alguém. E Clark… simplesmente não soubera o que dizer.
“Você não precisa ser eu.” “Não precisa carregar o peso do mundo.” “Você é o que quiser ser.”
Frases que ele ensaiava na cabeça, mas nunca saíam com a naturalidade que queria.
Ele passou a mão pelos cabelos, rindo sem humor. Salvar planetas era simples. Educar um garoto que era, de certa forma, ele mesmo — isso era o verdadeiro desafio.
A porta se abriu atrás dele. Clark ouviu, mas não se virou. Deixou o silêncio entre eles existir, pesado, real. Depois de alguns segundos, disse calmamente: — “Sabe… quando eu era mais novo, achava que precisava ser perfeito pra merecer o que meus pais fizeram por mim.”
Nada de resposta. Só o som leve de passos hesitantes se aproximando.
Clark continuou, a voz baixa, sincera: — “Mas eles me mostraram que amar alguém não é cobrar. É estar lá, mesmo quando tudo dá errado. Eu… estou tentando fazer o mesmo com você.”
O vento soprou, balançando as cortinas da janela. Ele finalmente se virou — só o suficiente pra lançar um olhar breve, cheio de calma. Conner ainda não dizia nada, mas não precisava.
Clark voltou a olhar pro horizonte e deixou um pequeno sorriso surgir, sereno, quase triste. — “Eu não sou perfeito, Conner. Nem espero que você seja. Mas… se quiser tentar descobrir quem é, eu vou estar aqui. Sempre.”
E por um instante, o Superman desapareceu completamente. Ficou só Clark Kent, o homem que aprendeu que ser pai era o ato mais heróico — e humano — de todos.