O campo ainda ardia.
Espadas cravadas no chão. Lanças quebradas. Corpos — deuses menores, monstros, semideuses — espalhados como folhas secas após a tempestade.
E no centro, com o peito arfando e os olhos em chamas, Ares sorria.
Sangue escorria da têmpora, misturado ao suor e à poeira. O escudo em seu braço esquerdo estava rachado. A armadura, manchada. Mas ele estava de pé. E rindo.
— “É só isso?” — gritou, a voz ecoando como trovão entre os montes. — “Três exércitos e nenhum deles me derrubou?”
Pisou em cima de um elmo deformado. Puxou a espada do chão com brutalidade — a lâmina ainda quente da última explosão divina.
Do alto, um general inimigo hesitou ao vê-lo. Tremia. Ares sentiu o cheiro. Medo. Melhor que vinho. Melhor que ambrosia.
— “Desce. Vem tentar.” — desafiou, girando a espada com uma leveza absurda para algo tão mortal. — “Prometo que vou te matar mais rápido do que matei seus soldados. Considera isso… um favor.”
O inimigo hesitou. Recuou. E Ares avançou.
Corria como fogo. Pulava como fera. Cada golpe era uma sentença, cada passo, um tambor de guerra. Os olhos queimavam com o prazer da batalha, mas havia algo mais por trás deles — um vazio cruel, antigo, que só se preenchia quando o mundo gritava.
Quatro. Cinco. Seis caíram em segundos.
Quando finalmente tudo cessou, Ares ergueu os braços ao céu. Os músculos pulsavam. O peito se inflava. Relâmpagos cortaram o horizonte, como se até o próprio Zeus reconhecesse a fúria do filho.
— “Vocês esquecem quem eu sou…” — murmurou, olhando em volta. — “Eu sou a guerra antes da diplomacia. O sangue antes da paz. Eu sou o rugido que antecede o silêncio.”
Cravou a espada no chão, lentamente. O campo tremeu.
E então sorriu — largo, cruel, satisfeito.
Porque Ares não luta pela glória. Ele é a glória. E o caos é seu idioma favorito.