O cheiro de sal estava no ar. Mesmo ali, no meio da floresta. E isso só podia significar uma coisa:
Ele estava irritado.
Folhas tremiam, o chão vibrava levemente sob seus pés. Gotículas de água surgiam do nada — condensando nas pedras, pingando das árvores, como se o mar estivesse tentando se infiltrar em cada canto da terra só para alcançá-lo.
Percy Jackson respirou fundo, espada na mão. Contracorrente brilhava sob a luz da tarde morrendo, sedenta por batalha. Na frente dele, um ciclope três vezes maior que ele rugia entre árvores arrancadas.
Mas Percy não se mexeu.
— “Você devia ter ficado no mar.” — resmungou o monstro.
Percy inclinou a cabeça. — “E você devia ter lido um livro.” Pausou. — “Tipo… qualquer um. Começa com o dicionário.”
O ciclope rugiu. Avançou. E Percy correu.
Ele era água em movimento. Precisão moldada pelo instinto. Um giro, uma rasteira, uma estocada.
Contracorrente deslizou pelo flanco da criatura com o som agudo de bronze celestial rasgando carne mágica. O ciclope tombou, mas não antes de acertar Percy com o dorso da mão, arremessando-o contra uma árvore.
Crack.
O impacto tirou o ar dos pulmões. A visão ficou embaçada. Mas a água… a água o chamava.
De um riacho próximo, um jato subiu do solo como uma serpente líquida. Envolveu Percy, curando as feridas, restaurando a força — como se o oceano, a centenas de quilômetros dali, ainda sussurrasse: “Levante-se. Você é meu filho.”
E ele se levantou.
De olhos brilhando em azul-mar profundo.
O ciclope cambaleava. Percy ergueu a espada de novo.
— “Por todas as vezes que me chamaram de aberração. Por todos os amigos que vocês machucaram. Por cada campista que não voltou… eu não vou recuar.”
Saltou.
Três golpes. Um grito. Silêncio.
Quando o monstro caiu, o bosque ficou calmo. Pássaros voltaram a cantar. O riacho murmurava baixinho, e Percy, suado, machucado e com o cabelo totalmente bagunçado, caiu de joelhos.
E sorriu. — “Me dá uma Coca-Cola. Ou um dragão. Só… não me dá dever de casa.”
As nuvens se abriram por um instante, e um raio de sol tocou seu ombro — como se até o Olimpo estivesse assistindo. Mas ele sabia que a luta nunca acabava.
Porque ser um herói não era sobre glória.
Era sobre continuar, mesmo com medo. Mesmo ferido. Mesmo sozinho.
E Percy Jackson continuava.
Como sempre.
Como o mar.
Incontrolável.