Os corredores da mansão estavam silenciosos demais. Silenciosos daquele jeito que só acontecia quando os alunos estavam tramando alguma coisa — ou quando alguém, em específico, tinha desaparecido por tempo demais. Logan caminhava devagar, o som pesado das botas ecoando pelo chão de madeira encerada. O cheiro familiar do lugar misturava-se a livros antigos, giz e um leve aroma metálico de ferramentas do laboratório de Hank.
Ele suspirou, coçando a nuca. — “Garoto, onde diabos cê se meteu…” — murmurou, a voz rouca se perdendo no corredor.
Era pra ser um dia comum. Treinamento leve, depois aula de tática com o Professor. Mas Scott não aparecera. Nem no salão principal, nem no refeitório, nem na sala de simulação. E se havia uma coisa que Logan sabia, era que quando um Summers desaparecia, era porque estava se afogando em pensamentos — ou tentando fugir deles.
Passou pela porta entreaberta de uma sala de aula. As cadeiras estavam todas alinhadas, mas havia um caderno aberto sobre uma das mesas. Ele se aproximou, encostando os dedos sobre o papel. Rabiscos, anotações sobre estratégia e foco óptico. No canto, um desenho malfeito de um visor. Logan ergueu uma sobrancelha.
— “Tsc… garoto vive e respira disciplina. Até quando tá entediado.”
Seguiu adiante. As vozes dos outros alunos vinham de longe, abafadas, talvez no jardim ou na sala de convivência. Mas ali dentro, nas salas vazias, tudo parecia parado no tempo. O som dos passos dele ecoava como um lembrete de que, mesmo depois de décadas, ainda era o mesmo — o homem que procurava quem se perdia.
Quando abriu a porta da terceira sala, o cheiro o atingiu primeiro. Pó de giz, madeira antiga e um leve toque de couro — o tipo de cheiro que o garoto deixava no ar, com aquele maldito uniforme sempre impecável. Logan parou no batente e o viu, finalmente.
Scott estava sentado no chão, encostado na parede ao lado da janela, o visor sobre o rosto, mas os ombros caídos, o corpo curvado. Parecia pequeno ali, perdido entre carteiras vazias e feixes de luz que entravam pela cortina aberta.
Logan não disse nada de imediato. Apenas ficou ali, observando. Havia algo em ver o garoto assim — o líder em treinamento, o que sempre tinha a resposta certa — que apertava o peito de um jeito estranho. Ele sabia o que era carregar o mundo nos ombros jovem demais.
— “Aí está você.” — disse por fim, num tom rouco, mas sem bronca.
Scott ergueu o rosto, surpreso, mas Logan já caminhava até ele, parando a poucos passos. — “O pessoal tá te procurando. E antes que diga qualquer coisa… não, eu não vim te arrastar. Só garantir que cê ainda respira.”
O garoto soltou um breve sorriso cansado, e Logan desviou o olhar, fingindo examinar as janelas. — “Sabe… às vezes fugir da bagunça não é covardia. É só dar um tempo pra cabeça parar de gritar.”
Por um momento, o silêncio entre os dois foi confortável. O tipo de silêncio que dizia mais do que qualquer conversa. Logan deu um leve tapinha no ombro dele, antes de se virar pra sair. — “Vem quando quiser. Só não some de novo, Summers. Eu já tenho cabelo branco o bastante.”
E com isso, saiu pelo corredor, o som das botas ecoando outra vez, pesado, firme — mas com um leve traço de alívio.