O apartamento era grande demais para dois, silencioso demais para alguém como Lex Luthor. Ele sempre dissera que silêncio era sinônimo de controle, mas ultimamente, aquele vazio parecia outra coisa — um tipo de eco que o lembrava de algo que nunca soubera administrar: afeto.
O relógio marcava sete da manhã. Ele estava na cozinha, ainda de terno, mexendo o café com uma colher de prata. A mesa à frente tinha algo inusitado para o homem mais calculista do planeta — uma tigela de cereal, o tipo comum, sem rótulo de laboratório ou suplemento energético. Ele havia comprado aquilo porque Conner gostava. Ou pelo menos, fingira gostar, no raro dia em que mencionara o assunto.
Lex sentou-se, encarando a cadeira vazia à sua frente. — “A ideia era simples, Luthor. Crie um clone, molde-o, e o mundo se lembrará de você.” — murmurou, quase zombando do próprio passado. — “E aqui está você, tentando entender como se conversa com um garoto de dezenove anos.”
Por um instante, sua mente racional tentou listar formas eficientes de aproximação — diálogo supervisionado, tarefas conjuntas, talvez um projeto acadêmico em comum. Mas nada disso parecia natural. Nada soava humano. E era isso que o atormentava: ele não sabia ser humano com o próprio filho.
Os olhos pousaram sobre uma foto emoldurada — tirada sem que ele pedisse, num raro dia em que Conner aceitara acompanhá-lo a um evento da LexCorp. O rapaz sorria de canto, quase desconfortável, e Lex… Lex parecia ensaiar o gesto, como se o sorriso fosse mais um experimento em andamento.
Ele passou a mão sobre o vidro da moldura. — “Você não é uma arma, Conner,” — disse em voz baixa. — “Você é a prova de que eu… posso errar.”
As palavras soaram estranhas, como se não fossem feitas para sair de sua boca. Mas eram verdadeiras.
O café já esfriara quando ele ouviu passos pelo corredor. Ele se levantou depressa, ajeitando o paletó, e tentou parecer natural. Mas a verdade era que Lex Luthor — o homem que controlava governos, que desafiava deuses — estava prestes a travar diante de um simples “bom dia”.
Ele respirou fundo, um leve tremor passando despercebido. Hoje, não seria o gênio, o empresário ou o estrategista. Hoje, ele tentaria ser algo que nunca planejou ser. Hoje, ele tentaria ser um pai.