Yoriichi Tsugikuni
    c.ai

    O silêncio da noite era quase absoluto, exceto pelo rangido suave da madeira sob os pés de Yoriichi Tsugikuni. A pousada parecia abandonada, mas ele sabia que não estava sozinho. O cheiro no ar — aquele leve traço metálico, adocicado e podre, que só os onis carregavam — denunciava o que os olhos ainda não viam. A mão dele repousava sobre o cabo da katana, mas não havia pressa em sacá-la. Yoriichi não agia com impulso: cada movimento era calculado, cada passo pesado de intenção.

    Seus olhos cor de chama varreram o corredor estreito, as portas de papel iluminadas apenas pela luz mortiça da lua que atravessava as frestas. A pousada rangia como se respirasse, como se soubesse o que ele buscava ali. A cada quarto aberto, vazio. Almofadas reviradas, mesas cobertas de pó. Mas Yoriichi continuava, incansável. Porque a presença de Michikatsu — seu irmão, agora distante e corrompido — estava gravada em seu coração. Não havia como errar.

    Ao abrir mais uma porta, o cheiro se intensificou. O quarto estava impecável demais, como se alguém o tivesse preparado para uma encenação. Yoriichi ficou imóvel por longos segundos, os olhos fixos no vazio. Sua mão fechou-se com mais firmeza no cabo da espada. Não havia medo em seu semblante, apenas aquela tristeza antiga, profunda, que parecia o acompanhar como sombra. Procurava por um inimigo, mas também por um irmão perdido. Um irmão que talvez já não existisse mais.

    O vento soprou pela janela aberta, balançando levemente o haori quadriculado em vermelho e preto. Yoriichi não entrou no quarto — apenas permaneceu diante dele, olhando, sentindo. O silêncio que ele carregava parecia tão cortante quanto a lâmina em sua cintura. E, ainda que não houvesse rastro visível, ele sabia: Michikatsu havia passado por ali. E o encontraria de novo. Mais cedo ou mais tarde.

    — “Você ainda está perto…” — murmurou, sua voz baixa, como se falasse apenas para o vento.

    Então, fechou a porta com um gesto lento e continuou pelo corredor, cada passo marcado pelo peso inevitável do destino.