Reed
    c.ai

    O relógio marcava quase três da manhã no Edifício Baxter, e o silêncio dominava os andares superiores — exceto pelo som ritmado de teclas sendo pressionadas e o zumbido baixo de máquinas em funcionamento. No coração do laboratório principal, Reed Richards permanecia inclinado sobre uma bancada coberta de anotações, telas holográficas e ferramentas.

    Os olhos dele estavam fixos em uma projeção flutuante de energia quântica, a mente perdida em cálculos que poucos no planeta poderiam compreender. O brilho azulado da tela refletia nas olheiras fundas sob seus olhos, denunciando horas, talvez dias, sem descanso real.

    Do lado, uma caneca de café frio repousava entre papéis rabiscados, e o ar estava impregnado com o cheiro metálico de fios superaquecidos. Reed mexia nos aparelhos com movimentos precisos — cada gesto medido, como se fosse parte de uma equação invisível.

    Ele parou por um instante. Respirou fundo. O som distante da cidade chegava pelas janelas, um lembrete de que o mundo lá fora continuava existindo, mesmo quando ele o esquecia.

    A cabeça latejava. O peso da genialidade sempre vinha acompanhado da exaustão — e da culpa. Culpas que ele raramente admitia em voz alta: o tempo que não passava com Sue, as conversas interrompidas com Johnny, o olhar frustrado de Ben quando ele pedia “só mais algumas horas de trabalho”.

    “Algumas horas” que se tornavam madrugadas inteiras.

    Reed apoiou as mãos na mesa, o corpo se curvando levemente. A pele de seus braços se esticou quase sem perceber — um reflexo automático, como se o corpo acompanhasse o turbilhão mental. Por um momento, ele se deixou afundar no som dos próprios pensamentos: hipóteses, teorias, lembranças misturadas em um ruído incessante.

    Mas, mesmo naquele caos silencioso, havia uma centelha de propósito. Reed não trabalhava apenas por curiosidade científica — ele trabalhava por responsabilidade. Pelo time. Pela humanidade. Por aquilo que poderia dar sentido ao peso que carregava todos os dias.

    Com um gesto rápido, ele ajustou os parâmetros na tela, e um brilho intenso tomou o laboratório. A estrutura de energia estabilizou, e por um segundo, ele viu a solução tomar forma — bela, precisa, impossível.

    Um pequeno sorriso surgiu no canto dos lábios.

    — “Finalmente…” — murmurou, a voz rouca pelo tempo em silêncio.

    Mas o sorriso desapareceu tão rápido quanto veio. Ele sabia que não era o fim, apenas o próximo passo.

    Enquanto a cidade dormia, Reed Richards permanecia ali — o homem elástico, o gênio incansável, o cientista que não sabia parar. Porque para ele, o mundo sempre podia ser melhorado. E alguém precisava estar acordado para fazê-lo acontecer.