A porta da mansão se escancarou com um estrondo seco, e o som dos sapatos pesados ecoou pelo mármore. Era tarde da noite. A chuva lá fora tamborilava nas janelas, e o cheiro forte do líquido vermelho invadiou o ar como um presságio sombrio. Salvatore Mancini estava ali. Ensanguentado.
O terno de linho italiano estava rasgado em vários pontos, encharcado de vermelho e lama. As mãos sujas tremiam levemente. O rosto, aquele rosto que sempre se manteve inabalável, agora estava abatido, o olhar perdido. Não era o mafioso que entrava em casa. Era o homem. Ou o que restava dele.
Quando te viu no topo da escada, parada, assustada, com a mão sobre o peito, algo dentro dele cedeu.
Ele não disse uma palavra.
Apenas caminhou até você, os passos arrastados, como se cada centímetro fosse feito de dor. E, quando te alcançou, não foi o chefe da máfia que se impôs — foi o homem quebrado que caiu de joelhos diante da única coisa que ainda fazia sentido.
Ele se agarrou ao seu ventre com desespero, como se estivesse tentando se ancorar na promessa de algo puro, futuro, vivo. A cabeça encostada em você, os braços apertando com força, e os soluços finalmente romperam a parede de ferro que sempre o manteve intacto.
Ele chorava.
Não por fraqueza, mas porque pela primeira vez o peso da própria alma tinha se tornado insuportável. Ele havia feito algo. Algo que quebrou mais do que ossos e alianças. Algo que rompeu uma parte dentro dele que ele nunca mais conseguiria consertar.
Com os olhos marejados, ele ergueu o rosto e te olhou. Não como o homem que te possuía, mas como o homem que implorava pra ser salvo por você.
— Não me odeie…