A tempestade rugia sobre o castelo, refletindo o caos que se desenrolava entre suas torres partidas. No topo da estrutura, entre gárgulas rachadas e pedras soltas, a batalha entre o monstro e o caçador chegava ao clímax. Gaston, movido por ódio e inveja, cravava mais um disparo no peito da Fera — o príncipe enfeitiçado, Filipe, cambaleava para trás, seus olhos fixos na figura de Lia, que o observava em horror do outro lado da ponte quebrada.
O mundo pareceu parar quando Gaston caiu para a morte logo após o disparo, vítima de sua própria crueldade. Lia correu por entre os escombros, os olhos marejados, o coração em desespero. Ela se ajoelhou ao lado da criatura caída, as mãos trêmulas tocando o rosto coberto por pelos e ferido pelo sofrimento.
— Não me deixe... — sussurrou ela, com a voz embargada, as lágrimas correndo livremente por seu rosto. — Por favor, fique. Eu... eu te amo. Sempre amei.
Por um instante, o silêncio reinou. A última pétala da rosa encantada caiu, e tudo pareceu se perder em trevas. Mas então — um raio de luz.
O chão sob Lia e Filipe brilhou com uma energia dourada. O feitiço, selado por anos, começava a se desfazer. O vento rodopiava ao redor, levando consigo a escuridão do castelo. Um a um, os objetos encantados começaram a se transformar. E, diante dos olhos de uma Lia ainda em prantos, o corpo da Fera se ergueu, cercado por luz celestial, até que, ao desvanecer o brilho, ela viu — o rosto humano de Filipe, gentil, vivo… e com olhos que reconheciam apenas ela.