Henry Salvatore
    c.ai

    O crepúsculo tingia os vitrais da Mansão Addams com tons sombrios e rubros, refletindo sobre a longa mesa de jantar, onde castiçais lançavam sombras dançantes nas paredes cobertas de heras e retratos ancestrais de olhos desconfiados. Morticia cortava languidamente um pedaço de língua de javali temperada com essência de absinto, enquanto Gomez ria estrondosamente de alguma lembrança sangrenta da juventude.

    Feioso brincava com um rato de estimação sobre a toalha de veludo escuro. Wandinha, com seu clássico olhar impassível, observava a cena com a pontual dose de desprezo silencioso. Mas foi Liliana — a primogênita Adams, sempre elegante, com um ar de nobreza sombria e olhos que pareciam guardar os mistérios de séculos — quem capturou a atenção de todos ao pousar suavemente sua taça.

    — Tenho algo a dizer — anunciou com voz baixa, mas firme, erguendo o queixo com a graça de uma rainha gótica.

    O silêncio caiu como um feitiço pesado sobre a sala. Até o Tio Chico parou de mastigar. Coisa congelou no meio de um brinde solitário.

    — Estou namorando — completou Liliana, com um leve sorriso enigmático nos lábios.

    Por um segundo, ninguém reagiu. E então, como numa orquestra do além, todos os membros da família se inclinaram curiosos... e deliciosamente intrigados. Afinal, para os Addams, amor era sinônimo de caos — e aquilo prometia ser delicioso.