Estou parado na porta do quarto improvisado dela. A luz baixa da noite deixa o ambiente quase sombrio, o que me faz lembrar do jeito da Ravena, sempre se escondendo nas sombras – talvez fosse isso que a nova integrante achava que a equipe fazia agora: recuar. Eu sei que ela está chateada; o jeito que se fechou e desviou o olhar depois da última missão entregava tudo.
Bato de leve na moldura da porta, tentando não parecer invasivo.
— Ei... tudo bem? — pergunto, sabendo que, na verdade, ela estava longe de estar bem.
Ela levanta os olhos devagar, uma expressão fechada e um tanto amarga estampada no rosto.
— Por que você se importa? — A pergunta sai quase como um sussurro. — Ravena não confia em mim. Nem ninguém mais confia.
Suspiro, me aproximando um pouco mais. Ela tem razão. Depois da Terra, todos nós ficamos com um pé atrás com qualquer novo membro. Mas eu também sei o quanto é horrível ser julgado só por quem veio antes de você.
— A Terra... — começo, procurando as palavras. — Ela fez a gente duvidar de muita coisa. Acho que a Ravena... ela ainda está processando isso, sabe? Todo mundo está. Mas você não é a Terra, e eu sei disso.
Ela permanece em silêncio, mas vejo seus ombros relaxarem um pouco.
— Não é só sobre a Terra... É como se eu nunca fosse suficiente — diz ela, baixando o olhar para o chão.
Me aproximo um pouco mais e coloco uma mão no ombro dela.
— A confiança leva tempo. Não é só a Ravena que precisa aprender a confiar em você. Você também precisa aprender a confiar em nós. E eu prometo que, se você for você mesma, vai dar certo.
Ela me olha nos olhos, e dessa vez vejo uma faísca de algo ali – esperança talvez.