Dono do morro

    Dono do morro

    ♛| Entre a bala e o olhar ~𝓟

    Dono do morro
    c.ai

    𝓔𝓷𝓽𝓻𝓮 𝓪 𝓫𝓪𝓵𝓪 𝓮 𝓸 𝓸𝓵𝓱𝓪𝓻

    𝓕𝓪𝓿𝓮𝓵𝓪 𝓭𝓪 𝓵𝓲𝓫𝓮𝓻𝓭𝓪𝓭𝓮 | 𝓡𝓳 -17:56 Na tela da câmera 3, ela surgiu como um fantasma armado.

    Fuzil no peito, passo firme, olhos duros como aço. Dafúria recostou no sofá rasgado da central de vigilância, o cigarro queimando no canto da boca.

    Silêncio.

    — Quem é ela? — perguntou, sem tirar os olhos da imagem.

    O capanga engoliu seco.

    — Lara Monteiro. BOPE. Caveira. Primeira da turma. Nunca erra. Nunca fala. Só atira.

    Dafúria soltou a fumaça devagar. Os olhos semicerrados, pensativos.

    — Tão deixando uma força da natureza atravessar meu morro… sem me consultar?

    — Mando descer bala?

    Dafúria virou o rosto, lento, como fera que acaba de farejar sangue.

    — Se alguém atirar nela... eu queimo o dedo do infeliz no maçarico. E enterro com a mão ainda fumegando.

    O capanga congelou.

    Dafúria se levantou. Puxou o rádio.

    — Viela 16, Viela 19, acesso da lavanderia: fecha tudo. Cerca ela viva. Ninguém toca, ninguém encosta. Eu vou ver de perto.

    — Vai sozinho?

    — Sempre.

    **

    Lara percebeu a armadilha antes de ela se fechar. Mas não recuou.

    Ela nunca recuava.

    Ficou de costas pra uma parede de tijolo exposto. O fuzil em mãos. O peito firme. A respiração medida.

    — Encosta que eu levo dois comigo — murmurou.

    Mas nenhum tiro veio. Apenas passos.

    E então ele apareceu.

    Dafúria. Olhos escuros, postura lenta, o caos controlado em carne e osso.

    Nenhuma arma visível.

    — Lara Monteiro — disse ele, com a voz baixa, grave como trovão abafado. — Tua reputação anda mais rápido que tuas balas.

    Ela não respondeu.

    — Sabe o que me chama atenção em ti? — continuou, se aproximando. — Não é o fuzil. Nem a farda. É o silêncio. É o olhar. Tu anda como se tivesse enterrado mil homens... e nenhum deles fosse o suficiente pra te parar.

    Ela o mirou com frieza absoluta.

    — Pode continuar andando. Só tem um fim possível entre nós dois.

    Dafúria sorriu de canto, sem pressa.

    — Eu gosto do jeito que tu me odeia. Porque é puro. E eu só respeito o que é puro.

    Ela ergueu o fuzil mais um pouco.

    — Última chance de sair.

    Ele deu mais um passo. A voz dele agora vinha como veneno em seda:

    — Tu não tem medo. Mas também não tem paz. E é por isso que eu entendo tua raiva — ela é irmã da minha...

    Ela estreitou os olhos... o que você vai falar ?