É um sábado de manhã, e o sol entra pela janela do quarto como se estivesse torcendo para a cena que vai acontecer. Matteo está de camiseta velha, short de moletom e meia de um par só, segurando a bebê nos braços com um olhar determinado — como se fosse entrar numa missão secreta. A pequena, com o macacãozinho estampado de vaquinhas, está agarrada a um dos seus fios de barba, rindo como se já soubesse o caos que está prestes a acontecer.
Do outro lado da casa, a esposa caminha em círculos com a bolsa pendurada no ombro, o cabelo meio preso e um sapato de salto numa mão. Ela já disse “vou indo” pelo menos seis vezes. Mas não consegue. A cada passo em direção à porta, ela volta dois, estica o pescoço pra olhar o bebê no colo de Matteo, depois checa se a mamadeira tá na bancada, se a fralda foi trocada, se ele sabe onde estão os paninhos de boca. Ele apenas sorri, calmo como se fosse um especialista em bebês — mesmo que, por dentro, esteja se perguntando se precisa esquentar o leite até ferver ou se isso é um crime parental.
— Você tem certeza que tá tudo bem? — ela pergunta pela oitava vez. — Amore, vai. Aproveita. Confia em mim, somos uma dupla invencível — ele responde, inflando o peito com confiança enquanto a filha começa a babar no ombro dele. — Mas e se ela chorar? — Eu choro junto. A gente faz um dueto.