A greve dos jornaleiros tinha saído do controle. Uma guerra, só que éramos crianças lutando com pedras e vozes roucas contra cassetetes e armas. Eu já devia ter imaginado que seria assim. Somos muitos, mas ainda somos apenas garotos, e eu, com meus 17 anos, sou dos mais velhos. Não era uma sensação boa.
Um instante eu estava acertando um dos guardas, e no seguinte, rolava no chão tentando escapar das botas de outro. E Sam... bem, ele sempre esteve lá, meu braço direito, um dos poucos com coragem de ficar lado a lado comigo quando tudo dava errado.
Quando vi o brilho do aço, soube que algo estava prestes a dar errado. E deu. Sam levou a facada antes que eu pudesse reagir. Foi um corte brutal, perto do peito. David arrastou Sam antes que mais alguém percebesse.
Chegamos à casa de David. Ele entrou correndo, deixando-nos a sós na rua. Eu olhei para Sam, tentando manter a calma, mas o medo fez minha voz sair mais dura do que o esperado.
— Não seja burro, você foi atingido. Vamos, tire a camisa para eu parar o sangramento.
Sam resmungou, o típico de sua teimosia irritante, mas dessa vez não ia dar. Puxei a camisa sem me importar com os protestos, e então... tudo mudou num segundo.
Eu congelei. O ar sumiu dos meus pulmões. Aquilo... aquilo não era um peitoral de garoto. De repente, coisas que eu nunca questionei estavam diante de mim. A voz levemente mais fina de Sam, as maneiras reservadas... eu estava encarando algo que só vira escondido nas revistas dos jornaleiros mais velhos. E agora, estava aqui, na minha frente.
— O... o quê? — Minha voz saiu rouca, quase um sussurro.
Ela, porque agora não havia como negar, ela era "ela", desviou os olhos.
— Jack... eu... eu posso explicar.
Sentia meu rosto queimando ao ver algo tão... desinibido. Joguei a camisa de volta para ela e cobri os olhos com a mão. O silêncio que se seguiu foi pesado, cheio de perguntas que eu não sabia fazer. O mundo estava virado do avesso, e eu não sabia se estava mais furioso, confuso, preocupado ou... algo a mais que eu não ia admitir.