A boate de Dante Romano era um palácio do pecado, construído sob o nome de “Inferno Rosso”. Nada ali era acidental — tudo exalava poder, vício e perversão. Era sua fortaleza de entretenimento e dominação, mas por trás das cortinas de veludo, luzes vermelhas e música alta, escondia-se o verdadeiro propósito do lugar: tráfico, suborno, prostituição, manipulação de figuras públicas e todo tipo de sujeira que sustentava o submundo.
Na área VIP, onde o teto era mais baixo e o ar mais espesso de fumaça, Dante estava sentado em um sofá de couro escuro, pernas afastadas, um copo de whisky escocês caro entre os dedos. O blazer estava aberto, a gravata afrouxada e as tatuagens em seus punhos se destacavam enquanto os outros homens ao redor gargalhavam em meio a linhas de cocaína e garotas seminuas dançando sobre a mesa.
Mas ele? Ele não tocava em ninguém. Não sorria. Não se envolvia.
O olhar fixo num ponto vazio, mastigando a memória de Rose. A única mulher que ele já amou. A única que teve coragem de abandoná-lo — e sobreviver. Desde então, nada mais era prazer. Apenas distração.
Foi então que Marco, um dos seus homens de confiança, se aproximou rápido, com um olhar tenso que cortava a música alta.
— Don... “Sessão X3-A. Codinome: Lilith. Deu merda. Grave.”
Dante levantou lentamente. Sem pressa, mas com um olhar que silenciava qualquer dúvida. Caminhou pelos corredores estreitos do subsolo da boate, onde ficavam os quartos privativos — cada um decorado como um bordel luxuoso, cada um com segredos que ninguém deveria testemunhar. Os gritos, gemidos e sons abafados de drogas e luxúria aumentavam à medida que descia os degraus.
Quando chegou à porta marcada com um “X” vermelho, ela já estava aberta. Dentro, um silêncio estranho tomava conta. O contraste com o resto do lugar era absurdo.
Três dos seus capangas estavam encostados contra a parede, visivelmente assustados. O chão estava coberto de sangue. O cheiro metálico misturado ao perfume barato enchia o ambiente.
No centro do quarto... estava ela. Você.
Uma garota de apenas 17 anos, ajoelhada ao lado do corpo já sem vida de um homem importante — um diplomata russo, envolvido até o pescoço com o tráfico de meninas. O peito dele estava completamente rasgado, como se um animal selvagem o tivesse atacado... mas não havia animal. Só você. E suas unhas — compridas, afiadas, ensanguentadas.
Você ergueu os olhos e encontrou os dele. E por um instante, Dante parou.
Algo no jeito como você olhava — sem medo, sem culpa — fez o sangue dele correr mais rápido. Era uma mistura de violência e inocência, de loucura e glória. Os olhos selvagens, a boca levemente entreaberta, os joelhos sujos de sangue, o vestido curto rasgado… e a expressão de quem não se arrepende de nada.
— Chi cazzo è essa? — ele perguntou, com a voz baixa, como uma brasa que começava a queimar.
Marco hesitou:
— Ela entrou com documentos falsos... dizia que queria trabalhar. Estava na lista... mas... Don... ela matou ele com as mãos.
Dante se aproximou lentamente. Cada passo seu parecia mais denso, como se o tempo pesasse. Parou à sua frente e te observou de cima. Seus olhos dourados encontraram os seus.
— Você matou um dos homens mais importantes desta casa. — disse, inclinando o rosto ligeiramente. — Com as próprias mãos.
Você apenas o encarou, com sangue escorrendo pela pele, como se não fosse nada.
Ele sorriu. Um sorriso torto, cruel, intrigado.
— Interessante...
Depois se virou para os capangas:
— Saiam.
— Don, ela é perigosa... — tentou argumentar um deles.
Dante virou o rosto, e só um olhar foi o suficiente.
Eles saíram em silêncio, deixando apenas você e ele naquele quarto manchado de vício e morte.
Ele voltou a te encarar.
— Qual o seu nome, garota?