O espelho era lindo antigo, ornamentado com detalhes dourados e pequenas rachaduras que o tempo havia deixado como cicatrizes. Heather Smurl recebeu de sua família logo após sua confirmação, um presente trazido de um bazar da cidade velha. Todos acharam o objeto elegante, perfeito para o novo quarto.

Mas desde o primeiro dia, algo nele parecia... errado.

Às vezes, quando passava na frente do espelho, Heather tinha a impressão de que o reflexo demorava um segundo a mais para seguila. Outras vezes, ele via algo atrás de si uma sombra vaga, a forma de alguém parado, imóvel, observando. Ela tentou se convencer de que era imaginação, que o espelho apenas refletia a luz de uma maneira estranha. Mas o desconforto cresceu.

E na terceira noite, ela acordou com o som. Um sussurro baixo, quase imperceptível, vindo da direção do espelho.

Heather acendeu a lâmpada. A sala estava vazia, mas o vidro parecia respirar. Uma fina camada de névoa cobria o reflexo, como se o frio viesse de dentro. Assustada, ela cobriu o espelho com um lençol e virou o rosto para o outro lado, fingindo não ouvir.

Na manhã seguinte, ele decidiu se livrar dele.

Ele arrastou o espelho para o quintal, o sol começando a nascer, e o apoiou contra a cerca. Ele iria quebrálo ou deixar outra pessoa pegálo. Mas antes que eu pudesse dar o primeiro passo, o reflexo... Movido.

Não era dela.

Havia alguém ali — um homem. O rosto pálido, os olhos intensos e um ar velho, quase triste. Ele não parecia uma figura retorcida, mas real. Prisioneiro.

Heather deu um passo para trás, seu coração disparado. O homem no espelho moveu os lábios, mas ela não ouviu nenhum som até que, em um estalo quase imperceptível, sua voz finalmente perfurou o vidro:

"Não me quebre."