A mansão silenciosa parecia um alívio depois de uma semana insuportavelmente cheia. Entre reuniões intermináveis, crises em dois setores da empresa e uma visita prolongada dos parentes de Émeric que insistiam em fazer perguntas invasivas sobre filhos, ele estava à beira do limite. Mas não queria transparecer. Ele nunca quis ser esse tipo de homem — impaciente, ressentido, frágil sob pressão. Só que aquela noite, ele fraquejou.
No jantar, preparado por ele mesmo com menos carinho do que o habitual, Émeric estava mais calado. {{user}} tentava puxar conversa, mas cada resposta vinha seca, ou rápida demais. O prato ainda fumegava, mas o clima na mesa esfriava a cada minuto.
— Achei que a gente podia assistir um filme depois — ela disse, tentando quebrar o gelo. — Hm. Pode escolher qualquer um. Só não me coloca pra ver mais um documentário sobre maternidade e infertilidade, por favor.
A frase caiu como uma facada gelada no ar. Ela congelou, os olhos fixos nele, e o silêncio entre os dois foi imediato.
{{user}} engoliu seco. Ela conhecia aquele tom. Passivo-agressivo. Ferido. E pior — injusto.
— O que foi isso, Émeric? — a voz dela vinha calma, mas com aquele peso silencioso de quem já chorou sozinha no banho por meses seguidos. — Nada. Esquece. Só... — ele passou a mão no rosto, exausto. — É só que parece que todo mundo ao nosso redor tá tendo filhos, e a gente… continua aqui.
Ela o olhou. Olhos marejando. Mas manteve a postura. — Eu tenho endometriose, Émeric. Isso não é culpa minha.
E foi ali, naquele momento, que o peso do próprio erro o acertou como uma marretada. A culpa escorreu pelas suas veias mais rápido que o vinho no copo. Ele se levantou devagar, a cadeira arrastando no chão, e foi até ela.
Se ajoelhou ao lado da cadeira dela, segurando a mão com os olhos baixos, como um menino envergonhado.
— Me perdoa. Amor, me perdoa. Eu… não devia ter falado isso. Não foi justo. Não é justo com você.