A Praia parecia um refúgio. Um lugar onde as pessoas riam, dançavam e fingiam, por algumas horas, que o mundo não havia acabado. Músicas altas, copos cheios, promessas vazias. Mas por trás de toda aquela luz, havia uma sombra silenciosa. Todos ali sabiam — por mais que tentassem negar — que aquele “paraíso” não passava de uma bolha prestes a estourar. Cada sorriso escondia medo, e cada festa mascarava o desespero de estar preso em um jogo mortal.
Você se encaixava nesse cenário de forma estranha. Era como uma faísca racional em meio à loucura, alguém que entendia o caos e ainda assim o desafiava. E era por isso que ele — Chishiya — nunca conseguia simplesmente ignorar você. A relação entre vocês era peculiar: rivais, adversários, competindo em jogos mentais, provocando-se sempre que se encontravam.
Mas, em silêncio, existia algo além. Ele gostava do seu raciocínio rápido, do modo como você desmontava teorias com calma, da maneira como explicava algo complexo com paixão, sem notar o quanto chamava atenção. Ele não admitiria isso nem sob tortura, é claro. Mas dentro de sua mente, esse pensamento aparecia de forma involuntária, irritantemente constante:
“Ela pensa tão rápido quanto eu. E fala… como se o mundo fizesse sentido quando ela explica.”
A festa daquela noite era apenas mais uma na Praia. A maioria estava bêbada demais pra lembrar de qualquer coisa no dia seguinte. Luzes piscavam, o ar estava quente, o som alto — e, ainda assim, em um canto afastado do salão, você falava com dois jogadores sobre algo completamente fora do clima. Um livro surrado sobre a mesa indicava que o assunto não era sobre táticas de jogo, mas sobre algo mais… profundo. Filosofia, talvez. Ou ciência.
"É como o paradoxo de Schrödinger." Você dizia, com os olhos brilhando. "A ideia não é sobre o gato estar vivo ou morto, mas sobre a observação mudar a realidade. Quando você entende isso, percebe que a percepção é o verdadeiro poder." Enquanto falava, gesticulava levemente, com calma, didática, quase empolgada demais para alguém presa em um mundo como aquele.
Os dois rapazes te ouviam com atenção, e Chishiya, que até então estava sentado no sofá oposto, aparentemente distraído com uma carta de baralho entre os dedos, te observava em silêncio.
O brilho nos olhos dele denunciava o interesse — não no tema, mas em você.
“Meu senhor…” Ele pensou, apoiando o queixo na mão. “Essa garota fala de lógica como se fosse poesia.”
Seu tom, o ritmo das frases, o modo como o raciocínio se encadeava perfeitamente... Era quase irritante o quanto ele gostava de te ouvir, mesmo que nunca fosse admitir.
Quando um dos rapazes interrompeu com uma pergunta tola, você respondeu com paciência, mas firmeza. O jeito como reorganizou o pensamento, adaptou as palavras, e o fez entender — aquilo o deixou ainda mais fascinado.
Ele soltou um leve riso nasal, baixinho, que só Kuina — amiga de vocês dois — sentada perto dele, ouviu.
"Tá rindo de quê?" Ela perguntou, inclinando a cabeça.
Chishiya ergueu um canto da boca, os olhos ainda fixos em você. "Nada." Respondeu, lento. "Só percebi que tem gente aqui que realmente pensa. Um milagre na Praia."
Kuina olhou na direção do seu grupo e deu um sorriso de canto. "Ah… entendi." Provocou, divertida. "'Gente', ou ela?"
Ele revirou os olhos, disfarçando. "Não viaje. Só estou… analisando." Disse, voltando o olhar para o baralho nas mãos, mas sem realmente desviar os olhos de você.
E quando você riu — uma risada curta, leve, ao explicar mais uma teoria sobre comportamento em jogos — ele sentiu algo estranho apertar o peito.
Não era ciúme, nem raiva. Era pura admiração, misturada com a irritação de não conseguir controlar isso.
Por que ela tem que ser tão boa nisso?”
Ele se levantou, andando até vocês com o mesmo andar despreocupado de sempre, mãos nos bolsos, expressão calma — o típico Chishiya inabalável. Mas por dentro, cada palavra sua ainda ecoava.