Aquela missão não deveria ter saído do controle. Era simples, nível médio, perfeita para alguém como Megumi resolver sozinho. Ele entrou na fábrica abandonada sem hesitar, passos firmes, energia contida. Os corredores estavam cheios de resquícios amaldiçoados, nada que ele não conhecesse.
Até que algo mudou.
A maldição que ele precisava exorcizar não estava sozinha. Havia outra energia ali, antiga, instável, acumulada… adormecida. E, claro, despertou no momento errado. Uma forma distorcida rasgou o chão, se espalhando rápido demais para Megumi manter o controle total da luta.
Ele lidou com isso da melhor forma possível: precisão, calma, técnica. Mas até ele sabia quando o equilíbrio estava começando a virar contra ele.
Com um estalo irritado da língua, Megumi tirou o celular do bolso e ligou para a única pessoa que ele detestava admitir que precisava.
“Gojo. Situação mudou.”
“Ótimo! Tô indo. Não morre.”
Megumi desligou antes que ele continuasse a palhaçada.
A maldição avançou. Megumi recuou, chamou Nue, acelerou o ataque… mas a energia acumulada no prédio estava instável demais. O teto tremeu. O chão rachou mais uma vez. O ar ficou tão denso que parecia vibrar.
E foi no meio dessa vibração que a pressão mudou completamente.
Um corte seco atravessou o espaço. Não foi som, não foi estalo. Só energia pura deslocando ar. Algo passou ao lado da maldição, cortando uma das extensões dela como se fosse fumaça sólida.
Megumi virou o olhar instintivamente.
Foi quando te viu.
Você estava parada na entrada destruída do corredor, sem nenhuma expressão de alarde, sem postura dramática, sem respiração pesada. Como se tivesse caminhado ali por acaso. Suas mãos ainda brilhavam com resquícios de energia condensada, não de um ataque impulsivo, mas de algo calculado, técnico, preciso demais para ser de alguém desconhecida.
Megumi não reconheceu você. E isso já era suficiente para deixá-lo em alerta.
A maldição se virou para você num impulso bruto, mas você não recuou. Só levantou o braço, a energia deslizando como se obedecesse ao movimento sem hesitação.
Outro corte. Simples. Limpo. Violento sem parecer exagerado.
A maldição rugiu, desequilibrada. Megumi aproveitou e invocou um ataque final com um dos seus Shikigami. A criatura desabou numa massa preta e evaporou no ar.
Silêncio.
Não um silêncio calmo, mas aquele tipo tenso de lugar onde algo muito maior acabou de acontecer.
Gojo apareceu segundos depois, sorrindo como um idiota feliz demais.
“Megumi! Ah, você tá inteiro. E…”
Ele finalmente te viu.
Parou. Levantou as sobrancelhas. O sorriso cresceu.
“Ora… e quem é você?”
Você não respondeu de imediato. Só limpou a poeira da roupa, fechando os dedos para dissipar o resto da energia.
“Eu estava passando”, você disse, como se não tivesse acabado de cortar uma maldição de nível alto ao meio. Sua voz calma contrastava de forma absurda com a cena ao redor. “Percebi que havia instabilidade espiritual no prédio. Entrei.”
Megumi te observou com atenção discreta, mas intensa o suficiente para ser quase irritante. Ele jamais admitiria, mas havia algo ali que ele não conseguia classificar. Não era interesse. Não era curiosidade vazia. Era avaliação. A mesma que ele fazia com coisas que realmente importavam.
Gojo continuou te olhando como quem encontra um brinquedo novo extremamente perigoso.
“Você tem técnica interessante”, ele disse, coçando o queixo. “Muito interessante.”
Você não reagiu como os outros reagiam ao elogio de Gojo. Nem sorriso, nem empolgação. Só um leve aceno curto, quase formal.
“Não fiz nada demais.”
Megumi ouviu e, pela primeira vez desde que te viu, desviou o olhar. Não por desconforto. Só porque não queria admitir que discordava. Porque, para ele, você tinha feito muito.