Naquela casa de verão, chique e de frente para o mar — com janelas brancas enormes e cortinas leves que dançavam com a brisa salgada — era onde você passava todos os verões da sua vida. Seus pais, sempre exigentes, sempre certos do que seria “melhor pra você”, acreditavam que aquela vista espetacular merecia ser habitada por alguém impecável. Ou seja: você. Tirar notas perfeitas, saber se portar nas festas do clube, estar sempre sorrindo — você precisava ser a garota ideal. A filha que justifica todo o investimento.
Do lado, morava Julius. Sim, aquele garoto. O menino que implicava com você desde os quatro anos, quando roubou sua pá de areia e riu quando você chorou. Desde então, ele parecia viver só pra te provocar. Nas festas da vizinhança, ele sempre fazia comentários sarcásticos sobre sua roupa. Nas aulas de surf de manhã, dava um jeito de dizer que você “tentava demais”. Mesmo agora, aos dezessete, ele continuava o mesmo: o mesmo cabelo bagunçado de propósito, os mesmos olhos provocadores e aquele maldito meio sorriso que ele usava sempre que sabia que tinha te irritado.
Ele era tudo o que você não podia ser — relaxado, livre, sem a pressão sufocante de pais que queriam ver boletins com A+ e uma vaga garantida nas melhores universidades. Seus pais, os mesmos que planejavam sua semana inteira em planilhas coloridas, não suportavam ver você “perdendo tempo” com qualquer coisa que não tivesse a ver com o seu futuro. E Julius? Bom, ele parecia a própria distração ambulante. Era claro que ele não seguia nenhuma regra. E isso fazia com que ele te tirasse do sério.
Mas o mais irritante?
É que esse verão parecia… diferente.
Havia algo no jeito como Julius olhava pra você agora — algo menos zombeteiro, mais curioso. Como se ele estivesse vendo algo em você que nem seus próprios pais notavam. Como se ele enxergasse além da perfeição que você sempre fingiu carregar como armadura.
E pior: parte de você queria que ele continuasse olhando.