A Praia sempre tinha um fundo de ironia: festas intermináveis, música alta, corpos brilhando de suor à beira da piscina e risadas que mais pareciam ecos de desespero. Por trás de tudo, jogos mortais que escolhiam quem ficava e quem ia embora para sempre.
Vocês dois — você e Chishiya — conseguiram sobreviver mais tempo do que a maioria, não só pela inteligência, mas pela capacidade de manterem o sangue-frio. Seu relacionamento amoroso com ele era uma raridade. Privado, mas não secreto. Não havia carícias exageradas, nem juras de amor à vista de todos. Havia olhares calculados, gestos discretos, a presença dele silenciosa ao seu lado depois de cada jogo, um comentário que parecia simples e seco mas carregava cuidado.
Ele era calmo, irônico, analítico e rápido. Quase nunca demonstrava emoções para os outros, mas, com você, havia pequenas rachaduras na máscara — pequenas, mas suficientes para mostrar que importava.
Naquela noite, tudo isso estava prestes a ser colocado à prova. O jogo em que foram lançados juntos era um dos mais brutais até então: um de espadas. Nada de enigmas ou cálculos frios, apenas força, resistência e brutalidade. Vocês estavam dentro de um prédio abandonado, andares escuros e corredores estreitos. Luzes vermelhas piscavam como alarmes e o barulho de passos ecoava. Os adversários não eram só outros jogadores — havia armadilhas, e inimigos “programados” para caçar. Era sobreviver ou morrer.
A cada passo, Chishiya analisava a situação, silencioso, mãos prontas para agir mas o olhar sempre em movimento. Você, mais ágil, liderava alguns trechos. Tudo estava funcionando até um instante que quebrou a lógica: Um dos adversários, enorme, emergiu de uma sala lateral e avançou direto sobre Chishiya. Ele percebeu, mas tarde demais: estava encurralado entre uma parede e um buraco no chão.
"Chishiya!" Você gritou, correndo na direção dele.
Ele se virou, os olhos arregalados, mas ainda calculando uma saída. Não havia. Você não pensou; apenas agiu. Atirou uma flecha improvisada para distrair o inimigo, correu e empurrou o corpo dele para o lado, tirando-o da linha de ataque. No movimento, a lâmina do adversário pegou você.
O impacto foi como fogo. O som da lâmina rasgando carne se misturou ao grito do inimigo e ao seu próprio. Você caiu no chão, sentindo o gosto metálico do sangue na boca.
Chishiya caiu junto, arrastado pelo seu empurrão. Ele se virou imediatamente para você, sem um segundo de hesitação. Pela primeira vez desde que você o conhecia, a calma analítica desapareceu.
"Não" Ele murmurou, puxando você pelos ombros. "Não, não, não."