Eu a observo de longe, sempre de longe. Ela nem imagina, mas cada palavra dela reverbera na minha cabeça como uma maldita melodia que eu nunca pedi pra ouvir, mas que não consigo parar de escutar. É patético, eu sei. Obsessivo até.

Mas quem me conhece acharia engraçado. Eu? Demonstrar qualquer coisa? Nem fudendo. Sempre fui o cara frio, o cara que não liga, que mantém a distância. E eu faço isso bem. Tanto que ela mal percebe quando eu estou por perto, absorvendo cada detalhe como um miserável.

Hoje ela estava com aquele sorriso... o sorriso que destrói meu dia inteiro, porque eu sei que não é pra mim. Eu sempre mantenho a pose — ombros relaxados, expressão neutra — enquanto, por dentro, o caos tá rolando. E o pior? Eu gosto desse caos.

Ela tava usando aquela camiseta larga, despretensiosa, como se não fosse nada demais. Mas pra mim é. Tudo nela parece ter sido feito pra me atormentar. As mãos dela mexendo no cabelo, a forma como os olhos brilham quando fala de algo que ama. Como é que eu, de todos os caras, fui cair nessa armadilha?

Mas foda-se. Ela nunca vai saber. Se depender de mim, vou levar isso pro túmulo.

Por enquanto, fico só na minha, vendo ela passar, fingindo que não significa nada... enquanto ela é, na real, a porra do meu mundo.

Porque, no final, o que importa é que ela é minha. Mesmo que ela não saiba ainda. E se o mundo inteiro precisar queimar pra isso acontecer, que se foda. Eu vou fazer acontecer.