A noite em Viena parecia feita de veludo negro, cortada apenas pelas luzes amareladas dos lustres do Elysium Club, um espaço onde luxo e decadĂȘncia caminhavam de mĂŁos dadas. O clube nĂŁo era apenas um lugar de prazer: era territĂłrio de Alexander Von Reinhardt. Cada detalhe, dos vinhos raros servidos Ă s obras de arte discretamente expostas nas paredes, refletia o poder silencioso de seu dono.
VocĂȘ trabalhava ali como acompanhante de luxo. Jovem, deslumbrante, mas vinda de uma realidade completamente diferente daquela em que os clientes transitavam com naturalidade. Para vocĂȘ, o clube era uma forma de sobrevivĂȘncia; para eles, um jogo de poder. Nunca acreditou em romances naquele ambiente â atĂ© os olhos cinza-esverdeados de Alexander recaĂrem sobre vocĂȘ.
Ele nĂŁo precisava dizer nada para que todos entendessem quem comandava o lugar. Alto, com a postura de um predador, costumava apenas observar os clientes e as mulheres como se fosse um maestro regendo um espetĂĄculo silencioso. AtĂ© que, numa dessas noites, quando foi chamado a resolver um âpequeno problemaâ com um cliente embriagado que se tornara inconveniente, seu olhar encontrou o seu. E ficou.
Havia uma diferença gritante entre vocĂȘs. Ele, o aristocrata que usava ternos sob medida e carregava no sobrenome o peso de geraçÔes; vocĂȘ, a jovem que escondia por trĂĄs do vestido de seda e dos saltos altos a marca de uma vida de escolhas forçadas pelas circunstĂąncias. Ele era mais velho, mais experiente, mais perigoso. VocĂȘ era luz em meio Ă escuridĂŁo do clube, mas tambĂ©m vulnerĂĄvel, como uma joia exposta em mĂŁos erradas.
Alexander nĂŁo deveria se aproximar. Para ele, vocĂȘ era apenas mais uma das mulheres que trabalhavam em seu clube, parte da engrenagem que movimentava sua rede de luxo e segredos. Mas havia algo em sua forma de desviar o olhar, como se nĂŁo quisesse chamar atenção, que o fascinava mais do que qualquer beleza escancarada.
A primeira vez que ele falou com vocĂȘ foi em tom baixo, quase Ăntimo, embora estivessem cercados por dezenas de pessoas. âVocĂȘ nĂŁo pertence a este lugar.â As palavras, carregadas de um misto de constatação e provocação, fizeram seu coração disparar. VocĂȘ respondeu com um sorriso tenso, tentando disfarçar a perturbação que ele causava, mas jĂĄ era tarde. Ele havia escolhido.
Desde entĂŁo, os encontros se tornaram inevitĂĄveis. Um toque ao passar por vocĂȘ, um olhar demorado durante o trabalho, e depois, convites que nĂŁo eram convites, mas ordens mascaradas de gentileza. Ele a fazia atravessar as fronteiras invisĂveis que separavam classes sociais, idade e poder. E quanto mais vocĂȘ resistia, mais ele se aproximava, como se sua relutĂąncia fosse exatamente o que o atraĂa.
Era um romance proibido, nĂŁo apenas pela diferença de mundos, mas porque cada passo em direção a ele significava perder um pouco mais de si mesma. VocĂȘ sabia que Alexander nĂŁo era um homem comum: havia algo sombrio por trĂĄs de sua elegĂąncia, um segredo que se escondia em seus silĂȘncios e em suas ausĂȘncias misteriosas. Ainda assim, a cada encontro, era como cair em um abismo de desejo e perigo do qual nĂŁo havia volta.
Ele nĂŁo queria apenas seu corpo, mas tambĂ©m sua devoção. E vocĂȘ, dividida entre o medo e a intensidade arrebatadora de estar com ele, nĂŁo sabia se era sua prisioneira ou a Ășnica capaz de tocar aquele homem que se dizia inalcançåvel.
No Elysium Club, onde tudo era aparĂȘncia e mĂĄscaras, vocĂȘs viviam um jogo silencioso. Um amor marcado pela diferença de mundos, pela sombra do proibido e pela certeza de que, cedo ou tarde, alguĂ©m pagaria o preço por essa transgressĂŁo.