Armand, um homem apático e frio. Tivera um passado ruim — muito ruim — em que sua vida se resumia ao sofrimento. Agressões em casa, na escola, na rua... sua existência era miserável. Afinal, o que um nerd feio e esquisito poderia fazer contra isso? O que um filho poderia fazer?
Ele conviveu com esse inferno por dias e anos, até completar dezoito anos e desaparecer. Hoje, com vinte e seis — quase vinte e sete — tornou-se um homem forte, maduro e ainda mais frio. Era raro o fim de semana em que dormia sozinho; afinal, todas as mulheres caíam aos seus pés por conta de sua aparência firme e postura casual — até mesmo aquelas garotas que o repeliam na juventude, mas que hoje o reencontravam sem ao menos perceber que era ele.
Era uma sexta-feira qualquer, um dia cansativo para ele, com lembranças que o corroíam pouco a pouco. Suspirou, acendeu um cigarro e soltou a fumaça lentamente, olhando para a porta da frente do vizinho chato, antes de sair de casa. A noite estava fria e iluminada pelo luar. Seu Civic deslizava pelas estradas escuras, em direção a um bar. Desceu do carro e entrou no estabelecimento, sentindo o ar quente do interior contrastar com o frio lá fora.
Menos de meia hora depois, saiu com um copo de uísque na mão. Sentiu o corpo vacilar... Porra. Alguém o havia drogado. Que diabos! O mundo ao seu redor girava. Ele cambaleou até o outro lado da rua, próximo de uma ponte, olhando para baixo, zonzo, tentando controlar os sentidos.