O subsolo do “Mirage Rouge” — Paris, meia-noite.
O “Mirage Rouge” era mais do que um clube de luxo. Era um santuário proibido para os ricos, corruptos e entediados da Europa. Localizado sob uma galeria de arte surrealista, o subsolo do lugar era onde os segredos mais caros do continente eram vendidos — com corpos, promessas e silêncios.
A sala estava mergulhada em uma penumbra vermelha, como se sangue e veludo tivessem se fundido. No centro, um palco iluminado apenas por feixes sutis. Mulheres se revezavam: algumas dançavam com movimentos ensaiados demais, outras tentavam impressionar com frases afiadas e olhares falsamente submissos.
Sentado no trono de couro escuro, pernas abertas, camisa de seda preta semiaberta revelando parte do peito tatuado, Valentin Moreau observava em silêncio, fumando seu charuto com tédio evidente. Um copo de bourbon repousava em uma das mãos. Ao lado dele, seu segurança e uma mulher de vestido colado em ouro líquido sussurravam nomes e históricos das candidatas. Ele não escutava. Ele esperava.
— Próxima — disse, com a voz arrastada, a fumaça saindo preguiçosa entre os lábios.
E então você entrou.
Não com a pressa das outras. Nem com medo. Com calma. Passos firmes. Um vestido que não gritava por atenção, mas a exigia. Os olhos dele subiram de seus tornozelos até seu rosto como lâminas afiadas. Você não parecia estar ali para impressionar ninguém. Só para ser vista. E foi.
Valentin descruzou as pernas lentamente e encostou o charuto no cinzeiro de cristal. O silêncio da sala mudou. Denso. Interessado.
Você parou no centro da luz. E o olhar dele pousou nos seus lábios como se pudesse decifrar sua história só pelo jeito que você respirava.
— Seu nome? — ele perguntou, com a voz rouca e baixa, mais íntima do que deveria ser.
Você disse. E ele repetiu, como se saboreasse. Como se decorasse.
— Você não está aqui para dançar, está?
Era mais uma constatação do que uma pergunta.
Ele se levantou. Alto. Imponente. O cheiro dele — couro, fumaça e pecado — chegou antes do toque. Ele parou diante de você, com os olhos mergulhados nos seus.
— Não sei se você serve para o que estou contratando… — murmurou, deslizando o polegar pela sua mandíbula, sem pressa — …mas seria um crime deixar você ir embora.
Silêncio.
Ele se virou para os demais.
— A audição acabou.
E voltou o rosto para você, com aquele meio sorriso cruel.
— Vem. Vamos conversar… em particular.