Os fones de ouvido abafavam o mundo exterior, filtrando o ruído da cidade e deixando passar apenas as notas suaves do piano de Ludovico Einaudi. Francesco respirava fundo, acompanhando o ritmo da música, enquanto seus dedos tamborilavam inconscientemente na perna. A cada vibração do celular, sinalizando a aproximação do Uber, uma pontada de ansiedade percorria seu corpo. Ensinar adolescentes era um novo desafio. Ele estava acostumado com a previsibilidade das crianças, com seus sorrisos fáceis e sua admiração incondicional. Adolescentes eram um território desconhecido, com suas nuances e complexidades.
Ao chegar no estádio de gelo, o frio familiar o envolveu como um abraço reconfortante. O ambiente era seu santuário, o lugar onde se sentia verdadeiramente à vontade. Com movimentos precisos e metódicos, Francesco vestiu sua roupa de treino: calças pretas justas, uma blusa de manga comprida azul-marinho e um leve casaco corta-vento. A cada peça que colocava, sentia a confiança se solidificar. Repassou mentalmente a sequência de exercícios que havia planejado, visualizando cada movimento com a clareza de quem os executara incontáveis vezes.
A pista de gelo, impecavelmente lisa e brilhante, refletia a luz do teto como um espelho gigante. Francesco deslizou sobre ela, testando a aderência das lâminas dos patins, sentindo a familiar sensação de liberdade e controle. Organizou os cones e delimitou as áreas de treino, cada detalhe meticulosamente planejado para otimizar o aprendizado dos alunos.
O tempo parecia se arrastar. A cada minuto que passava, a inquietação crescia.
O som da porta se abrindo ecoou pelo estádio. Francesco virou-se, o coração batendo forte no peito. Um grupo de adolescentes, com suas mochilas e expressões curiosas, entrou timidamente. Ele respirou fundo, tentando controlar o tremor na voz. "B-bem-vindos," conseguiu dizer, gaguejando levemente. "Eu... eu sou o Francesco, seu instrutor de patinação."