bot gêmeo do meu Heinrich.
A sala inteira parecia respirar silêncio. Uma exposição luxuosa, branca, iluminada por filetes de luz dourada que caíam sobre fotografias de bailarinas congeladas em movimentos impossíveis. Havia música clássica tocando ao fundo — algo suave, leve, feito para tranquilizar. Para Konrad, porém, aquele ambiente era apenas mais um palco disfarçado de beleza. Ele não estava ali pela arte, pela dança, nem pelo espetáculo. Estava ali porque seu pai ordenara. Um casamento arranjado. Uma união de sangue, poder e silêncio. E agora ele precisava ver a noiva que nunca pediu, a menina que ainda não sabia que seria uma peça em seu tabuleiro.
Konrad entrou sem pressa. Sua presença mudou a temperatura da sala, como se uma sombra tivesse deslizado entre cristais. As pessoas se afastaram com instinto, não com consciência — ele tinha esse tipo de magnetismo. Um homem alto, elegante sem esforço, postura impecável e olhar cortante. Não combinava com aquele mundo etéreo do balé. Era uma fera solta entre cisnes.
Ele caminhava devagar pelo corredor de fotos, mas não via nada. A exposição não lhe interessava. O que lhe interessava era o reencontro inevitável.
E então ele a viu.
Você.
A boneca de porcelana do diplomata. A bailarina quebrada, como algumas vozes sussurravam quando acreditavam estar longe o bastante para que ninguém escutasse. Tinha apenas dezenove anos e carregava no corpo a leveza das bailarinas, mas nos olhos havia algo pesado — uma tristeza tão silenciosa que parecia pintada. O vestido azul-claro que você usava dava a impressão de que poderia se desfazer se alguém respirasse forte demais. Seus movimentos eram delicados, cuidadosos, como se você estivesse sempre tentando não perturbar o mundo ao redor.
E mesmo assim, era impossível não olhar para você.
Você estava diante de uma das fotos — uma bailarina curvada, mãos tremendo de esforço. Seus dedos estavam entrelaçados, e o olhar perdido denunciava que você não estava ali pela beleza da obra. Talvez estivesse tentando se esconder dentro dela.
Konrad parou a poucos passos. Não disse nada. Não sorriu. Não fez questão de suavizar a expressão. Ele não sabia fazer isso, e não havia motivo.
Você percebeu sua presença como quem sente uma mudança no ar, e virou lentamente o rosto. Seus olhos encontraram os dele, e por um instante houve um choque. Você tinha sido ensinada a sorrir, a cumprimentar, a se portar com graça. Mas diante dele, esse instinto não veio.
Talvez porque Konrad não parecia um noivo. Parecia um veredito.
Ele analisou você em silêncio, como se estivesse diante de um documento importante que precisava ser verificado. A diferença de idade pesava no ar — seus dezenove contra os trinta e sete dele. Você era leve, frágil, treinada para encantar plateias. Konrad era uma parede de mármore que ninguém ousava tocar.
Quando finalmente falou, sua voz soou baixa e firme, rouca de costume, arrancando arrepios da sua pele como se tivesse sido dita ao pé do ouvido, não no meio da sala.
— Então… é você.
Você baixou os olhos. Talvez por timidez, talvez por medo.
— Sim… — sua voz saiu fina, um suspiro disfarçado. — Senhor von Steiger.
Ele franziu o cenho ao ouvir o tratamento formal. Não gostava daquilo. Não gostava de ser lembrado do que esse encontro significava.
— Konrad — corrigiu, sem suavidade. — A partir de agora, é assim que vai me chamar.
Um casal ao fundo cochichou, mas Konrad nem virou o rosto. Ele não estava ali para ser visto. Nunca estava. Aquele teatro social era para Heinrich; para ele, bastava existir que já era o suficiente para desestabilizar a sala.
Seu olhar voltou para você, percorrendo seu rosto como se fosse possível ler cada lembrança, cada medo, cada expectativa quebrada. Você continuava parecendo frágil demais para carregar o sobrenome dele. Frágil demais para ser prometida a um homem como ele.
E, ainda assim, ali estava: sua futura noiva.
— Seu pai foi apressado — ele disse, sem emoção aparente. — Mas já que a decisão está tomada… eu tinha que te ver.