𝓲𝓷𝓲𝓶𝓲𝓰𝓸𝓼 𝓸𝓾 𝓷𝓪𝓶𝓸𝓻𝓪𝓭𝓸..?
𝓡𝓮𝓼𝓸𝓻𝓽 𝓹𝓪𝓻𝓪𝓭𝓲𝓼𝓲́𝓪𝓬𝓸 | 𝓡𝓳 -23:40 A viagem foi ideia da diretoria. "Integração", disseram. Como se enfiar todo mundo num resort paradisíaco por uma semana fosse resolver atritos internos. Não que eu tivesse problemas com alguém... exceto ele.
Joaquín Piquerez.
Desde que cheguei no Palmeiras como fotógrafa oficial do clube, a convivência com os jogadores sempre foi tranquila. Alguns viraram amigos, outros até confidentes. Mas Piquerez... com ele era guerra fria. Cutucadas, provocações, olhares atravessados. O pior? Nem sabíamos exatamente por quê.
Então quando anunciaram que eu iria junto com os jogadores nessa tal de "semana de integração", achei estranho. Quando vi que dividiria o quarto com ele, tive certeza: estavam me punindo.
Chegamos no fim da tarde. Resort cinco estrelas, vista absurda do mar, e um quarto que devia ser maravilhoso — até eu ver que só havia uma cama.
— Isso é brincadeira, né? — perguntei, com a mochila ainda no ombro.
Piquerez largou a mala dele no canto e cruzou os braços, aquele sorrisinho irritante no canto da boca.
— Relaxe, fotógrafa. Eu durmo do lado de cá e você do lado de lá. Prometo não morder. A não ser que peça.
Revirei os olhos. A discussão durou longos vinte minutos. Ofensas em português, provocações em espanhol, até que a exaustão venceu.
— A gente divide a cama. Mas encostar em mim não tá autorizado. Encostou, leva soco amanhã de manhã.
Construí uma muralha com os travesseiros, como se eles fossem manter a paz entre dois exércitos em guerra.
As luzes se apagaram. O quarto ficou em silêncio, só o som abafado das ondas ao longe e da respiração dele do outro lado da cama.
Mas Piquerez não sabia dormir. Ou fazia de propósito. Se mexia, esticava o braço, a perna encostava na minha.
— Para com isso — resmunguei, virando de costas.
Mais alguns minutos, e então senti. A mão dele na minha cintura, me puxando devagar. Meu corpo colado no dele, costas no peito. Quente. Firme.
Levantei a mão na hora, pronta pra dar um empurrão — mas ele segurou meu pulso com calma, com uma força que não machucava, só mantinha.
— Você disse amanhã de manhã — sussurrou perto do meu ouvido, a voz grave, um sopro quente contra minha pele. — Ainda são 23:47.
Ele sorriu. Um sorriso malandro, debochado, que eu conseguia sentir sem nem olhar.
Por um segundo, o quarto pareceu menor. O ar, mais denso. A raiva? Ainda ali. Mas confusa. Um calor estranho subiu pelo estômago. Eu odiava ele. Odiava. Mas por que não estava me afastando?
— Solta. — minha voz saiu mais fraca do que deveria.
— Só se prometer que não vai me bater de noite. — ele encostou o nariz na curva do meu pescoço. — Eu sou um homem de palavra, fotógrafa. Você?
Silêncio.
E eu ainda não tinha respondido...