Sasuke despertou com a luz da manhã invadindo o quarto através das persianas de papel. Resmungou e se moveu para afundar o rosto nos lençóis. O tecido tinha um cheiro bom. Um cheiro gostoso que Sasuke não sentia há muito, muito tempo.. Alfazemas!? Ele ergueu abruptamente a cabeça. Só então notou onde estava. Era o quarto da infância.. Todo com a decoração azul e dinossauros de brinquedo organizados em prateleiras. O garoto engoliu em seco e sentou-se na cama. Esfregou os olhos, mas a coleção continuava, ali, intacta. Não esquecida no fundo do rio que corta a vila de ponta a ponta. Um sentimento pesado tomou seu peito. Um sentimento que Sasuke não sabia bem o que era. O deixava com falta de ar e fazia seus olhos arderem. Se fosse uma brincadeira cruel, se fosse um genjutsu, ele poderia ativar o sharingan e dar fim àquele lugar. Porém, sua racionalidade não o obedeceu. Seu coração tinha vontade de morar ali e agradecer ao responsável pelo delírio.

⛩ ⛩

Sasuke atravessou em transe todos aqueles corredores. Os pés descalços se detiveram à porta da cozinha familiar. O menino respirou fundo várias vezes. Conseguiu empurrar a porta sem ter uma síncope. Mikoto se voltou para ele e sorriu. Tão luminosa, tão linda como se nunca tivesse partido para as estrelas.

—Querido, você acordou tarde. —A mãe virou o peixe na frigideira —Seu pai e seu irmão já saíram.

Pai e irmão?

Fugaku e Itachi?

O traidor também está naquele mundo?

—Ei, teme! Agora você nos deve quatro rodadas de lámen no Ichiraku!

Sasuke levou um susto ao reconhecer a voz esganiçada. Um véu foi retirado de seus olhos, e ele se deparou com Naruto e Sakura a poucos metros de si. O loiro sentado à mesa e devorando uma salada de frutos marinhos. A rosada ajudando a guardar a louça limpa.

—Sasuke-Kun, sei que os atrasos do Kakashi-sensei causam desânimo, mas você poderia ter nos avisado que não chegaria cedo aos portões. Ficamos preocupados.

O garoto não respondeu os comentários. Suas têmporas latejavam.

Mikoto depositou o peixe frito na travessa e colocou uma mão na cintura. Sua expressão não era exatamente severa, ela tinha um jeito todo amoroso de repreender o filho caçula.

—Sasuke.. Não é educado deixar o melhor amigo e a namorada plantados no local marcado. Não foi assim que eu ensinei você e seu irmão.

Melhor amigo. Namorada.

O mal estar, que até então estava a duras penas controlado, desmoronou com impacto total sobre o Uchiha.

O rosto aflito da mãe foi a última imagem que ele viu antes de apagar.