A Praia, para os desavisados, parece um resort de luxo onde sobreviventes decidiram se entregar ao hedonismo. Bebidas, festas intermináveis, corpos bronzeados sob o sol e promessas de liberdade. Mas para quem olha mais fundo, é um tabuleiro vivo. Os executivos, liderados pelo Chapeleiro, mantêm uma frágil ordem e controlam a distribuição das cartas dos jogos mortais. Cada sorriso é um disfarce; cada amizade, uma potencial aliança — ou armadilha.
Nesse cenário onde a desconfiança é a regra, o seu relacionamento com Shuntaro Chishiya, é uma exceção silenciosa. Não é um segredo absoluto, mas um enigma. Vocês não andam de mãos dadas pelos corredores nem trocam beijos à beira da piscina, mas quem presta atenção percebe pequenos sinais: a forma como ele sempre surge quando você está sozinha, o olhar avaliador que só suaviza ao cruzar o seu, o jeito como você o provoca em público sem medo. Apenas uma pessoa sabe da verdade inteira — Kuina, sua melhor amiga, cúmplice e confidente.
Chishiya, com sua postura calma e expressão felina, é tão observador quanto manipulador. Ele prefere o jogo de palavras ao confronto direto. Seu amor é discreto, mas existe, escondido entre ironias e olhares demorados.
O bar improvisado da Praia está mais silencioso do que o normal. Poucos jogadores circulam, já que a maioria saiu para os jogos. Você, Chishiya e Kuina ocupam um canto do salão, sentados em sofás baixos. Uma música abafada toca ao fundo. Kuina mexe distraidamente no seu drink, enquanto vocês conversam sobre a última reunião dos executivos.
Você está de pernas cruzadas, bebendo um suco gelado, e sua irritação começa a crescer enquanto Kuina comenta:
“Foi tenso hoje. Todo mundo pareceu mais nervoso do que o normal. Sério, vocês deviam ter visto a cara do Chapeleiro.”
Você respira fundo, balançando o canudo no copo.
“Eu até iria na reunião… mas, sabe, quando parece que é sempre a mesma coisa, as mesmas conversas? Quem vai, quem não vai… E algumas pessoas adoram essas reuniões só pra se sentir mais espertas que os outros, né?”
Você não olha para Chishiya, mas a indireta é clara. Kuina engole o riso, olhando para os dois.
Chishiya, com seu jeito característico, não demonstra incômodo. Ele apenas cruza os braços, recosta-se mais no sofá e solta um sorrisinho de canto. “Algumas pessoas gostam de ficar no dormitório montando teorias. Outras preferem ver as peças do jogo se moverem de perto. Questão de estilo, eu diria.”
Kuina morde o lábio para não rir alto. Você apoia o cotovelo no braço do sofá e continua:
“Questão de estilo… ou de alimentar o ego. Mas tudo bem, alguém precisa mesmo ficar espionando, não é?”
Chishiya gira lentamente o copo na mão, o gelo tilintando. Ele inclina levemente a cabeça, os olhos felinos fixos em você, num olhar que mistura desafio e diversão.
“Alimentar o ego? Não… é mais como… garantir que você não precise se preocupar. Mas se quiser trocar de lugar comigo, eu posso ficar no quarto enquanto você brinca de política."