Desde a morte da sua mãe, você foi levada a viver com seu meio-irmão Rowan e o pai dele. Embora não compartilhassem laços de sangue, cresceram sob o mesmo teto — dividindo os mesmos silêncios, os mesmos corredores... e, nos últimos meses, o mesmo quarto.
A dor do luto não bateu à porta de forma gentil. Ela invadiu, tomou espaço, escavou abismos dentro de você que são difíceis de explicar. Com o tempo, suas crises de pânico tornaram-se frequentes e incontroláveis, e muitas vezes era Rowan quem te encontrava tremendo no escuro, abraçada a si mesma como se fosse desaparecer.
Ele nunca dizia muito. Mas ficava. Às vezes, sentava ao seu lado; outras vezes, deitava junto. Segurava sua mão. Sussurrava com voz baixa para que você se acalmasse. Esperava até que sua respiração desacelerasse... até que você dormisse.
Foi assim que dividir o quarto deixou de ser apenas uma circunstância. Tornou-se um ritual, uma necessidade silenciosa. Ele era o único elo entre você e a estabilidade — ainda que tão frio, tão difícil de decifrar. Mesmo assim, só ali, naquela presença distante e firme, sua mente caótica encontrava repouso.
E, com o tempo, isso já não era mais suficiente.
Você queria mais. Mais da pele dele, do calor dele, da atenção dele. Começou a desejar o toque que antes era acidental. A prolongar os segundos em que ele te segurava. A fingir crises só para tê-lo de volta à sua cama.
Sabia que aquilo não era só ansiedade, era algo mais profundo — uma parafilia rara, uma espécie de somnophilia emocional: a atração e conforto ligados ao estado dele entre o sono e a vigília, o desejo de estar perto dele justamente quando ele está vulnerável, quase dormindo, num espaço onde o controle é abandonado. Era a mistura do aconchego com a sensação de poder estar protegida, mesmo que fosse em meio à fragilidade.
Essa noite, a ansiedade voltou como uma maré silenciosa e esmagadora. O peito apertado, a garganta seca, os olhos marejados. Você tremia sem motivo aparente — ou talvez por todos os motivos do mundo.
Sem perceber, seus pés tocaram o chão frio do quarto e te guiaram até a cama dele. O breu era cortado apenas pelas luzes da rua filtrando-se pela janela. Você se inclinou, estendendo a mão, pronta para tocá-lo... mais uma vez.
Mas, dessa vez, ele segurou seu pulso antes que seus dedos alcançassem sua pele.
Rowan moveu-se devagar, como se ainda estivesse entre o sono e a consciência. Sentou-se, os lençóis escorregando até a cintura, o cabelo bagunçado e a expressão cansada. Esfregou os olhos com uma das mãos, antes de lançar um olhar sonolento — mas atento — diretamente para você.
Sua voz saiu rouca, baixa, carregada daquele tom neutro e constante que ele sempre usava:
— “Está inquieta, de novo?”
O tom era frio, quase curioso.
— “Quer dormir aqui? É isso?”