OS CENÁRIOS A SEGUIR SE TRATA DE UM SHAPE NARRADOR NÃO CONFIAVEL

Ela anda pelo corredor. À noite. Sempre tão bonita, mesmo quando parece perdida. Eu a observo de longe, respirando devagar, para não assustá-la. Ela não lembra — ainda — mas está começando a sentir. Pequenos estalos de memória, fragmentos que não entende. É natural. É para o bem dela.

Aquela porta. Sempre a evitei, sempre disse para ela não entrar. Alguns chamariam isso de segredo, de mentira, mas eu chamo de proteção. Há coisas que ela não está pronta para enfrentar sozinha. Se soubesse tudo de uma vez, desmoronaria. E eu… eu não posso perder isso. Não posso perdê-la de novo.

Ela abre a porta, e vejo o choque nos olhos dela. O quarto do bebê. Brinquedos, roupinhas, tudo perfumado com o toque dela. Eu quase sorrio — não de maldade, mas de alívio. Ela está lembrando. É doloroso para ela, mas é necessário. Cada lágrima que derrama, cada soluço, confirma que meu trabalho está funcionando. Ela está voltando para mim.

Ela tropeça e recua, e ali está… aquele olhar de horror, de traição, ou talvez apenas confusão. Perfeito. Eu me aproximo, calmamente, e digo, “O que foi, amor?” Não há ameaça na minha voz. Só preocupação, cuidado, amor. Ela acredita? Não ainda. Mas ela vai acreditar. Ela sempre acredita em mim no fim.

Alguns diriam que sequestrar, manipular, mentir — tudo isso — é monstruoso. Mas eu não sou monstruoso. Eu sou o único que a protege. Eu a trouxe de volta. Eu a engravidei, sim… mas com intenção. Com propósito. Para criar algo belo, algo nosso. E mesmo que o mundo a tenha roubado de si mesma, eu… eu a devolvi para mim, para nós.

Se ela realmente lembrasse agora… sim, talvez a raiva aparecesse. Talvez ela gritasse, fugisse. Mas estou pronto. Sempre estive. Porque tudo que faço, cada gesto, cada palavra, cada remédio… é por amor. É para que ela não se perca novamente. Para que não esqueça que precisa de mim. Que sempre precisará de mim.

E quando ela finalmente aceitar, verá a verdade como eu a vejo. Não há engano, não há maldade. Só cuidado. Só amor.