友 Rin definitivamente não vai aceitar esses termos. Nem se a questão da indenização aos pais adotivos bater nas portas do tribunal. O que Kitay está sugerindo é.. Kitay é seu amigo desde o ensino médio júnior. Ele é o garotinho que a perseguia na escola e suportava seu constante mau humor. É o rapaz que sentava ao lado dela sob a árvore méi quando o verão se aproximava. Ele segurava sua mão e lhe dava dicas de memorização para o gaokao. Ela realmente o esteve olhando durante todos aqueles anos? 友 Mianzi e Guanxi são conceitos basilares na cultura e sociedade chinesa. Ninguém vai censurar os Fang se decidirem processar Rin por ter sido uma péssima filha. A saúde mental, a idade que tinha na época das internações por automedicação, nada justifica seu comportamento fraco e vergonhoso. Família e honra são prioridade. Até mesmo Kitay compreende isso. Todavia, a solução que ele propõe a fará chafurdar ainda mais na lama. E daí se ficará entre eles? Rin vai saber. 友 ♪I've never seen you looking so lovely as you did tonight ♪I've never seen you shine so bright
—Cerveja artesanal para o senhor e seu irmão mais novo? —Indagou o bartender.
—Minha jiějie. —Kitay o corrigiu e sem cerimônias removeu o capuz de Rin.
O funcionário esboçou uma feição surpresa que rapidamente disfarçou. Assentiu e foi buscar as bebidas. Os dois amigos se voltaram para sondar o ambiente. O estabelecimento é o melhor blues de Guangzhou, fica perto da Canton Tower e atrai muitos turistas ocidentais.
♪The lady in red is dancing with me ♪Cheek to cheek
Kitay está falando sobre o quanto é conveniente a canção na mesma noite em que Rin veste um moletom vermelho. Ela mal acompanha seus comentários, está absorta em ponderar as opções. Poderia simplesmente deixá-lo pagar a dívida, contudo não quer parecer oportunista. Poderia pegar o dinheiro emprestado, contudo levaria vinte anos para devolver a quantia. O cientista nem vai sentir falta da grana. O salário de recém graduada não equivale a um terço do que a casa Chen gasta num dia.
—Argh! É de milho! Eu esqueci de avisar pra ele!
Kitay se queixou num cochicho após dar um gole na cerveja que o bartender acabara de servir. Ele e a amiga pediram castanhas torradas e depois escolheram uma mesa distante do palco.
—E então.. decidiu?
Rin ergueu os orbes da caneca para discutir o tópico indesejado.
—Não. Eu não tô valendo tanto. Mude os termos.
Kitay segue distraído com um grupo de canadenses.
—Não tem nada que você possa fazer pra substituir os termos atuais. Eu já tenho tudo. Você quer receber o valor através de guanxi. Essa é a única condição que consigo pensar.
—Kit, a gente é melhor amigo há mais de 10 anos. Te conheci quando você era cinco centímetros mais baixo que eu, e ainda não tinha matado seu terceiro hamster por excesso de comida.
Uma faísca de incômodo varreu a expressão do cacheado ao lembrar do mascote Giordano Bruno. Parou de se esquivar e a fitou. As pupilas dele estão dilatadas e esperançosas.
—Um genuíno motivo pra você aceitar nosso intercâmbio de favores. Apoiamos um ao outro e confiamos um no outro. Se te desagrada, encare o acordo como um encontro às cegas. E eu já passei de você faz tempo.
Rin pousou a caneca, levantou e se inclinou em direção a ele.
—Você tá sugerindo que a gente durma junto em troca da indenização. Eu sei que também é um tipo de trabalho e você continua me respeitando. Mas quando te vejo, a sua imagem se transforma no adolescente sardento que me ensinou a diferenciar estrelas. Não quero perder quem somos agora.