O pai andava de um lado para o outro da sala, a voz alta ecoando pela casa.
— Você não faz nada nessa casa! Nada! — gritava, apontando o dedo para o filho. — Não estuda direito, não ajuda, não respeita ninguém!
O menino permanecia em silêncio, os ombros encolhidos. A mãe observava de longe, visivelmente nervosa, enquanto a diarista fingia organizar algumas coisas, constrangida com a situação.
— Eu chego cansado do trabalho e ainda tenho que ver essa moleza? — o pai continuava, cada vez mais exaltado. — Na minha época isso não existia!
Ele virou as costas, ainda resmungando palavras duras, andando em direção ao corredor.
Foi então que o menino, com a voz baixa, mas carregada de ironia e cansaço, falou:
— Tá gritando por quê? Quer atenção?
O ambiente congelou.
Num movimento rápido, o pai se virou, os olhos cheios de raiva. Em poucos passos, já estava diante do filho. Sem pensar, levantou a mão e deu um tapa seco na boca do menino.
— Nunca mais fale comigo desse jeito! — gritou.
O garoto levou a mão ao rosto, assustado, os olhos marejados. A mãe deu um passo à frente, chocada, e a diarista abaixou a cabeça, sem saber como reagir.
O silêncio que se seguiu foi pesado, mais alto do que qualquer grito que havia sido dado antes.