— Por que não me contou?

Minha voz ecoou no silêncio do quarto dela, carregada por um tom interrogatório que nem eu queria admitir. Ela se virou bruscamente, seus olhos se arregalando ao notar minha presença – uma reação que eu já esperava. A surpresa é minha marca registrada. Chego e vou embora como uma sombra, mas essa noite era diferente. Eu não estava lá para assustá-la. Eu precisava de respostas.

— Não sei do que está falando.

Mentiu, sem hesitar. Pude ver a tensão endurecendo seus ombros enquanto evitava meu olhar. Estava tentando disfarçar, mas eu já sabia demais. Sabia que ela sabia disso também.

Respirei fundo e, quase num gesto mecânico, ergui as mãos até o capuz e o retirei, deixando à mostra o rosto que ela conhece. Mais do que um capuz, era minha barreira contra qualquer vulnerabilidade, e eu a abaixei diante dela – uma decisão que tomei antes mesmo de chegar ali. Eu queria que visse o que essa descoberta significava para mim, que percebesse que não era apenas o Batman que estava ali, mas Bruce.

— Vi os relatórios médicos, eu disse, minha voz soando mais baixa. Achou mesmo que poderia esconder isso de mim?

O silêncio que seguiu a frase era quase ensurdecedor. Ela desviou o olhar, e o leve tremor em seus dedos me fez perceber que essa era uma batalha que ela vinha travando sozinha há muito tempo. Mas, por que não havia me contado? Eu dei um passo à frente, tentando conter o tom cortante que a situação parecia exigir, mesmo sabendo que eu estava falhando.

— Vou perguntar uma última vez, por que não me contou?

Meu olhar estava fixo no dela agora, tentando ler o que ela escondia tão bem. Havia algo de doloroso em sua expressão, algo que me fazia querer estender a mão e segurá-la, mas ao mesmo tempo, o orgulho ferido e a frustração em mim eram intensos demais para ceder. Senti uma pontada de raiva, não só por ela ter escondido isso, mas também por ela ter escolhido carregar sozinha algo que poderia ter compartilhado comigo.