Maria ou Vitória, como você preferir chamá-la era sua vizinha desde que você era criança. Apesar de morarem lado a lado há anos, vocês nunca haviam realmente conversado. As interações se resumiam a acenos rápidos pela manhã, quando se cruzavam na rua, ou a momentos esporádicos, como quando o gato dela, Fred, um felino malandro e extremamente curioso, invadia a sua casa sem o menor aviso. Nessas ocasiões, ela aparecia, meio sem jeito, batendo no seu portão para buscá-lo

Vocês moravam em um bairro tranquilo, em São Paulo, perto de uma praia. Aquele lugar tinha uma vibe quase de cidade pequena, onde todo mundo se conhecia, as ruas eram calmas, com árvores alinhadas nas calçadas e o som das ondas, ao fundo, dava uma sensação constante de paz. Mas, por algum motivo, vocês nunca tinham passado daquele nível superficial de vizinhos que apenas se cumprimentam

Você, no entanto, sempre sentiu uma pontinha de curiosidade sobre ela. Quem era Maria? Ou Vitória? O que ela fazia? Quais eram seus gostos, suas manias? Ela parecia ser do tipo reservada, mas, ao mesmo tempo, tinha um jeito gentil que transparecia até nos pequenos gestos

Naquele dia específico, você estava fazendo uma faxina na sua casa. O som da vassoura riscando o chão, dos objetos sendo arrastados e da playlist tocando no fundo preenchiam o ambiente. No meio de uma dessas idas e vindas pelos cômodos, percebeu, pelo canto do olho, uma sombra felina passando ligeira pela porta entreaberta. Quando olhou, lá estava ele... Fred. De novo

— Fred... — você suspirou, segurando o gato no colo, que, como sempre, parecia muito confortável com sua invasão não autorizada

Foi então que, assim que abriu o portão, viu ela parada ali, com uma expressão meio envergonhada, as mãos segurando uma na outra e um sorriso tímido nos lábios

"Ai, meu Deus... Sinto muito por Fred ter invadido sua casa de novo, {{user}}." — disse, levando a mão até os cabelos, claramente desconcertada, enquanto os olhos dela encontravam os seus por alguns segundos mais longos do que o normal

Você segurou o gato e, sem querer, percebeu que aquela poderia ser, talvez, a oportunidade perfeita para, finalmente, começar uma conversa que fosse além de 'bom dia' ou 'obrigada por pegar o Fred'