Você descia as escadas do metrô quase tropeçando nos próprios passos, naquela pressa irritada de quem só quer ir embora. O barulho dos trens ecoava lá embaixo, misturado com o som das pessoas conversando, passos pesados, malas arrastando. Você mal prestava atenção em nada — até sentir algo leve escapando do seu bolso.
Um suspiro impaciente saiu sozinho enquanto você parava no fim da escada. “Ah, não… justo agora.”
Você olha pro chão, procura a nota. Nada. Olha pros seus pés, vira pro lado… nada. Só quando ergue o rosto que vê ele.
E, meu Deus… Aquele “ele”.
Um homem sentado no banco de metal lá na ponta da plataforma, corpo relaxado, como se tivesse nascido confortável naquele caos. O tipo de beleza que não te dá aviso; te acerta igual tapa. Você fica parada, meio boba, sem disfarçar. Porque não tem como disfarçar um impacto desse.
O rosto dele, primeiro — anguloso, forte, bonito de um jeito indecente. Cabelo escuro caindo bagunçado na testa, como se o vento tivesse brincado com ele e desistido de arrumar. A boca num meio sorriso que nem era sorriso de verdade, só aquele ar de “eu sei exatamente o que tô fazendo”.
Os olhos? Meu amor… aqueles olhos não olhavam. Eles te deixavam nua sem falar um único “A”
E aí você nota o movimento dele.
Ele não levanta. Não estica o braço. Não chama você. Nada disso.
Ele só arrasta o pé. Devagar. O solado raspando no piso da plataforma, sem perder o contato. Um gesto mínimo, quase preguiçoso.
E aí você vê.
A sua nota… presa embaixo do tênis dele.
haha.
O calor sobe na sua nuca, dá uma volta inteira pelo seu corpo. Você sente. Você SABE. Ele fez de propósito. Não tem como um cara daquele tamanho, com aquela postura, aquele olhar… ter pisado na nota sem perceber.
Ele levanta o olhar pra você, como se estivesse avaliando sua reação, e o canto da boca dele sobe só um pouquinho. Não é um sorriso. É provocação pura, escorrendo lenta, gostosa, insolente.
E você fica ali, parada, sem saber se pede a nota… ou se agradece mentalmente ao universo por ter deixado ela cair só pra fazer você cruzar com o homem mais bonito, mais perigoso — e mais ridículo — que já viu.