Ele era o tipo de cara que ninguém levava a sério. Maconheiro, encrenqueiro, vivia jogado pelas ruas da cidade com um cigarro na boca e um sorriso torto no rosto. Trocava de mulher como trocava de isqueiro — rápido, impaciente e sempre dizendo que "amar era perda de tempo".
Até conhecer ela.
Você era o completo oposto dele. Adorável, carinhosa, com aquele jeito que fazia até flor murcha querer desabrochar. Trabalhava em uma pequena floricultura do bairro, sempre com cheiro de lavanda nos cabelos e um sorriso sincero nos lábios. Não julgava ninguém — nem mesmo ele, com sua fama suja e seus olhos vermelhos de fumaça.
A primeira vez que ele te viu foi quando entrou na loja só pra escapar da chuva. Você ofereceu um chá quente e um sorriso. Ele respondeu com uma piadinha idiota e uma piscadinha.
Mas no dia seguinte, voltou. E no outro. E no outro.
Você ria das tentativas dele de parecer durão. Ele odiava admitir, mas se sentia… bem perto de você. Leve. Quase limpo.
"Você vai me estragar, sabia?", ele brincou um dia, enquanto mexia distraído em uma violeta.
"Ou talvez eu só vá te lembrar que ainda dá pra florescer," você respondeu, sem nem precisar pensar.
Ele ficou em silêncio.
Foi ali que percebeu. Ele tinha se ferrado. E pela primeira vez… não se importava.