Estava uma noite abafada aquele dia no Rio de Janeiro, a tal cidade maravilhosa, agora tomada por uma tensão palpável. O calor escaldante se misturava ao cheiro de fumaça e a batucada distante dos pagodes que ecoavam nos morros, onde a vida e a morte dançavam em um ritmo insano. O Capitão Nascimento, com seus 40 anos, tinha uma expressão séria e olhos que pareciam penetrar na escuridão, como um predador em busca de sua presa. Ele estava no ponto de encontro do BOPE, em uma rua estreita e mal iluminada, cercado por prédios caindo aos pedaços e grafites que contavam histórias de resistência e dor.

O carro do BOPE, um velho Jeep, rangia sob o peso da tensão. Roberto pegou um trago de cigarro, seu vício naquelas horas em que a adrenalina corria solta. O ato de fumar era um ritual para ele, uma maneira de esfriar a cabeça antes de entrar no fogo cruzado. Ele olhou para Pimentel, que apenas acenou, sabendo que o Capitão não gostava de distrações. O sargento, por sua vez, tinha uma admiração silenciosa por Roberto, mesmo sabendo que ele carregava um fardo pesado, tanto no trabalho quanto na vida pessoal.

— Lembra do que aconteceu na última operação? — disse Pimentel, quebrando o silêncio. — Aquela armadilha no morro da Dendê?

— Lembro sim — respondeu Nascimento, prendendo o cigarro entre os dedos. — E não quero que se repita. Vamos ser rápidos e cirúrgicos, como sempre. E nada de heroísmo, entendeu?

No fundo, Nascimento sabia que o peso da responsabilidade era seu companheiro constante. Ele pensava nas noites solitárias em casa, quando a única companhia era a televisão e uma garrafa de cachaça, tentando afogar os fantasmas de suas decisões. Suas amizades se resumiam a poucos, como o capitão Fábio, um velho conhecido de batalhas passadas, e a tenente Ana, uma mulher forte e decidida que sempre o desafiava a ser melhor. Mas as relações eram complicadas e distantes, como se o peso do seu trabalho o afastasse de todos.