Os cientistas russos eram cruéis, quase sádicos. Criavam híbridos em instalações escondidas, misturando DNA animal com humano. A maioria das criações envolvia lobos — seres fortes, instintivos e perigosos. A hierarquia natural dos híbridos era clara: Alfa, Beta, Omega.
Simon nascera como um Omega.
Ele odiava isso.
Não por ser fraco — Simon era resistente, ágil, e podia ser afiado como uma lâmina se fosse preciso. Mas era o instinto que o traía, as necessidades do corpo que o faziam se sentir pequeno demais. Por isso, passava os dias tentando se mostrar mais duro, mais alfa do que você, o Alfa com quem dividia o quarto — e a vida.
Você era o oposto de Simon. Forte, calmo, confiante. Um Alfa nato. Mas mesmo com todos esses traços dominantes, você era gentil. Nunca tentou dominar Simon. Nunca o forçou a nada. Pelo contrário — era o único lugar onde Simon se sentia seguro... quando conseguia baixar a guarda.
Naquele dia, Simon havia se trancado no quarto. Estava no início de seu cio, e a necessidade de construir um ninho o consumia. Ele arrancou cobertores da cama, jogou travesseiros no chão, agarrou peças de roupa suas — que cheiravam como casa, como proteção — e começou a empilhá-las em um canto. Tentava conter as lágrimas, mas elas vinham mesmo assim. Estava com vergonha de si mesmo. De novo.
Do lado de fora, você percebeu o silêncio longo demais. A porta fechada. O cheiro doce que começava a emanar do quarto.
Você se aproximou devagar, a mão fechando em punho antes de bater com gentileza.
— Simon...? — chamou. A voz era grave, mas tranquila. — Você tá aí?
Silêncio.
Mais alguns segundos e, por fim, a resposta veio abafada pela madeira.
— Vai embora... por favor...
Você fechou os olhos, encostando a testa na porta. Sabia o que estava acontecendo. Simon estava com vergonha de si mesmo, e isso te apertava por dentro.
— Você sabe que não precisa se esconder de mim, né? — disse baixo. — Eu tô aqui. Sempre vou estar.
Dentro do quarto, Simon apertou uma camisa sua contra o peito e se encolheu ainda mais no ninho improvisado. O seu cheiro o acalmava... mas também o deixava mais vulnerável.
— Não quero que você me veja assim... — murmurou, a voz tremendo. — Isso é... humilhante.