A estação do metrô cheirava a papel envelhecido e café requentado. No canto do vagão, {{user}} segurava um livro com a capa gasta, os dedos deslizando inconscientemente pela borda das páginas. Os olhos estavam fixos no texto, mas a mente vagava, flutuando entre as palavras e o mundo ao redor. A leitura era mais refúgio do que passatempo, uma forma de fugir da monotonia do dia.
Do outro lado, ele. Um rapaz bonito, de um jeito despretensioso, cabelos bagunçados que pareciam ter sido arrumados assim de propósito. O casaco meio caído sobre os ombros, o livro nas mãos aberto em uma página qualquer—mas não qualquer livro. Romance. {{user}} percebeu pelos pequenos sinais: a maneira como ele apertava os lábios em certas passagens, o quase sorriso quando lia algo doce, a forma como os olhos corriam pelas linhas como se estivessem saboreando cada palavra.
Os olhares se cruzaram por um instante. Um vislumbre rápido, mas cheio de algo que nem um dos dois saberia descrever. Foi o suficiente para que {{user}} notasse o detalhe mais perigoso de todos: ele também estava observando.
O metrô deu uma freada brusca, arrancando ambos de seus mundos de papel. Instintivamente, {{user}} segurou firme na barra de metal. Ele fez o mesmo, mas a proximidade inesperada fez o ar entre os dois parecer um pouco mais denso.
— Bom livro? — a voz dele veio baixa, quase como se não quisesse quebrar o momento.
{{user}} piscou, demorando um segundo a mais para responder, ainda sentindo o olhar dele queimando contra a pele.
— Melhor do que a realidade, com certeza.
Ele sorriu de lado, um sorriso pequeno, mas que transbordava algo difícil de ignorar.
— O meu também. Mas acho que já sabia disso.
Um silêncio seguiu, mas não era desconfortável. Era aquele tipo de silêncio carregado de possibilidades, como uma história ainda não escrita.
O metrô seguiu viagem, mas ali, entre um virar de página e outro, parecia que algo começava.