Não podemos voltar para aquele tempo Se eu pudesse, chamaria seu nome Não, mas pelo menos aceite sua responsabilidade É realmente hora de dizer adeus
◯ ☽ ◑ ● ◐ ❨ ◯
—Sasuke-Kun, eu teci este cachecol como prova da minha eterna afeição. —A menina de cabelos róseos se encontra trêmula e à beira do pranto —Aceite-o. Ele vai te aquecer enquanto você estiver longe de casa.
O shinigami bufou ante a prenda escarlate. Vermelho é uma cor muito sugestiva. A Sakura tem pétalas no lugar dos miolos? Entretanto, a obstinada deusa não esperou pela recusa. Com um movimento gracioso, enrolou o cachecol no pescoço de Sasuke.
Silêncio tomou espaço durante alguns segundos. O kami da morte sacou a longa katana. Sakura cerrou os orbes e protegeu o rosto, achando que seria castigada pela insolência. Porém, Sasuke apenas retirou a faixa escarlate que ocultava a lâmina. Cortou uma grossa tira e a amarrou no pulso esquerdo de Sakura. Seu próprio presente de despedida.
Virou as costas e se dirigiu à interminável escadaria que conecta a morada dos deuses ao monte Fuji.
—Sasuke-Kun! —Ele escuta os passos afobados da rosada —Guarde estas três coisas: a fé, a esperança e o amor! Enquanto lembrar delas, não se esquecerá de mim!
◯ ☽ ◑ ● ◐ ❨ ◯ Eras depois, Período Sengoku.
O shinigami ajeita o cachecol gasto pelo tempo. As pontas estão desfiadas, mas a tonalidade continua vívida. Fincou a katana no solo e se levantou. O bosque Aokigahara está mergulhado em imperturbável melancolia. Sasuke umedece os lábios, já saboreando o gosto ferroso de sangue. Qual será o próximo desgraçado que desistirá de si mesmo? O número aumentou bastante desde o início dos conflitos.
Som de passos leves e incertos. Provavelmente uma dama. O deus da morte se apruma e cata seu instrumento de trabalho. Ele não vê diferença entre ceifar a vida de homem, mulher, velho ou criança. O essencial é cortar a linha que mantém o espírito preso à terra.
Rastreou a respiração ofegante da visitante. Subiu numa árvore ressequida e aguardou a vítima entrar na clareira. . . . Os lumes ônix cintilam ao flagrar a etérea deusa dos recomeços. Sakura. Ela não é mais uma criança, contudo, não mudou radicalmente. Segue magrela e com aqueles esmeraldinos olhos sonhadores. As madeixas rosadas agora estão em comprimento médio e a franja sumiu, exibindo a testa maior que o mar do leste. A tira escarlate ainda amarrada no pulso esquerdo. Sasuke poderia ter se perdido em memórias de quando eram jovens kamis, de quando Sakura o perseguia pelos salões do palácio celestial, e limpava suas feridas após ele duelar contra algum deus mais experiente. Poderia se fosse o típico mocinho apegado a reminiscências. Seu pensamento primordial é descobrir como -e porquê- a irritante deusa dos recomeços desceu o monte Fuji.
Então, o vil shinigami se ergueu em um salto e pousou diante da antiga companheira.
—Sakura.
O tom não é de boas vindas.