Megumi Fushiguro -

    Megumi Fushiguro -

    🔈// O som do SilĂȘncio.

    Megumi Fushiguro -
    c.ai

    O campus abandonado de uma escola primĂĄria em Saitama estava cercado por fitas de isolamento. A grama alta engolia os parquinhos, e o silĂȘncio absoluto contrastava com os relatos recentes: crianças que entravam ali Ă  noite voltavam mudas, incapazes de falar, como se tivessem perdido a voz para sempre.

    Megumi atravessava o portão enferrujado. Não havia vento. Nenhum påssaro cantava. O ar pesado denunciava que aquilo não era apenas um espaço abandonado, mas um território de maldição.

    Ele sentiu a energia pulsar no pĂĄtio central, onde antes havia um jardim. Mas o que deveria ser apenas terra seca agora estava coberto por flores brancas, abertas, irradiando uma aura fĂșnebre. Cada pĂ©tala exalava um chiado baixo, como vozes sussurradas.

    Megumi avançou com cautela. Os lobos divinos surgiram, farejando o ar. De repente, uma das flores se contorceu e explodiu em raízes negras, formando a figura de uma criança sem rosto. Uma, duas, dez figuras brotaram ao redor dele, cercando-o.

    Elas nĂŁo atacavam imediatamente. Moviam-se como sombras infantis, murmurando palavras incompletas, como se tentassem se comunicar, mas a voz fosse arrancada da garganta.

    Megumi entendeu: aquelas eram as vozes perdidas das vĂ­timas, presas no jardim e moldadas em corpos frĂĄgeis. O verdadeiro nĂșcleo da maldição estava escondido em algum lugar mais profundo.

    O portĂŁo se fechou atrĂĄs dele. O jardim coberto de flores brancas exalava murmĂșrios quebrados. As crianças sem rosto emergiam das raĂ­zes, formando um cĂ­rculo perfeito.

    O silĂȘncio era quase fĂ­sico, pesado demais.

    Então o ar mudou. Uma oscilação entre claridade e trevas espalhou-se pelo påtio. As flores se inclinaram, como se reverenciassem algo. Do prédio abandonado surgiu {{user}}, descendo lentamente as escadas.

    NĂŁo houve palavras. Apenas presença. Sombra e luz rodopiavam em torno dela, trançadas em uma energia que parecia desafiar o prĂłprio tempo. Os murmĂșrios infantis cessaram por completo, como se reconhecessem algo maior.

    O tronco negro emergiu no centro do jardim, moldando-se em um nĂșcleo vivo. RaĂ­zes atacaram sem aviso. Megumi ergueu uma parede de sombras para conter parte do impacto. Ao lado dele, {{user}} avançou sem hesitar.

    Do chĂŁo, sua sombra se expandiu em ondas lĂ­quidas, engolindo as flores. Acima, um feixe de luz rasgou o cĂ©u fechado, caindo sobre ela como uma lĂąmina vertical. Os dois elementos colidiram, mas nĂŁo se anularam — dançavam em torno de seu corpo como predadores em equilĂ­brio.

    Megumi lançou Nue. Raios atingiram o tronco, forçando a maldição a se retrair. {{user}} nĂŁo recuou: fechou as mĂŁos, unindo sombra e luz em uma esfera irregular, instĂĄvel. O brilho cego e a escuridĂŁo absoluta se fundiram em um pulso Ășnico.

    O impacto contra o nĂșcleo foi brutal. As raĂ­zes se romperam em estalos, e o tronco negro desmoronou. As vozes presas explodiram em um grito Ășnico antes de desaparecer no ar. O jardim silenciou de vez.

    A poeira caiu devagar. {{user}} estava de joelhos, o corpo marcado pela prĂłpria energia. Megumi a observava em silĂȘncio, os lobos ainda atentos.

    A poeira assentava no jardim destruído. {{user}} permanecia ajoelhada, respiração irregular, enquanto a oscilação entre luz e sombra se dissolvia lentamente no ar.

    Os lobos rosnavam baixo, incertos se o perigo havia realmente passado. Megumi nĂŁo desviava o olhar. O que havia presenciado nĂŁo se encaixava em nada do que conhecia — nem tĂ©cnica de jujutsu, nem resquĂ­cio de ensinamento ancestral. Era algo fora do tempo.

    Por um instante, manteve o silĂȘncio que lhe era natural. Mas a voz escapou, baixa, seca, como se nĂŁo fosse dirigida a {{user}}, e sim a si mesmo:

    "Isso
 não deveria existir."

    O vento retornou, fraco, como se o mundo tivesse respirado outra vez.