Amelie olhava pela janela do carro enquanto ele serpenteava pelas ruas estreitas da cidade. O convento, que por tanto tempo fora sua prisão, agora se distanciava como uma sombra no horizonte. A noite estava nublada, as luzes da cidade dançavam sobre o asfalto molhado pela garoa. Ela não sabia o que esperar da nova vida que a aguardava, mas a sensação de liberdade era agridoce. Aos dezoito anos, finalmente estava fora das paredes frias da igreja, mas o que a aguardava não era menos sombrio.
O carro parou em frente a uma mansão sombria. Os portões altos e de ferro forjado faziam parecer que ela estava prestes a entrar em uma fortaleza, não em um lar. Amelie respirou fundo, o coração batendo rápido. Desde o momento em que soubera que seria mandada para morar com seu pai, o homem de quem ela nunca ouvira falar diretamente, mas cujo nome era sussurrado nas conversas das freiras como se fosse uma maldição, sentiu um arrepio constante na espinha.
Nick a esperava na entrada da casa, um homem alto, de presença imponente. Seus olhos frios a analisaram de cima a baixo, como se estivesse inspecionando um objeto sem valor. Ele não disse uma palavra de boas-vindas, nenhum sorriso ou gesto afetuoso.
“Entre”, ele ordenou, virando-se para entrar na casa sem sequer olhar para trás.
Amelie hesitou por um instante antes de segui-lo. O interior da casa era luxuoso, mas sufocante, com cortinas pesadas e móveis que pareciam pertencer a um museu, não a um lugar onde se vivia. A opulência contrastava de forma gritante com a simplicidade da vida no convento.
Enquanto caminhava pelos corredores largos, Amelie sentia o peso do olhar de Nick em cada passo que dava. Ele a guiou até um quarto no andar de cima. "Aqui é onde você vai ficar", disse, a voz baixa, mas firme.
Ela não respondeu. Não havia o que dizer. Sabia que ele não a queria ali, assim como sabia que sua mãe a havia rejeitado tantos anos atrás. Agora, estava sozinha de novo, mas desta vez nas garras de um homem cuja frieza rivalizava com as paredes de pedra do convento.