A corrida não dura muito. Ele é rápido, mas não o suficiente. O som das botas dele ressoa no concreto molhado, ecoando pelos becos imundos de Gotham. Ele tropeça, mas continua. Como um rato encurralado que ainda não entendeu que já está morto.
Eu acelero. Não sou mais um garoto correndo atrás do vento. Eu sou a sombra inevitável. A Morte sem rosto.
Ele dobra uma esquina, tentando me despistar. Idiota. Eu conheço esse labirinto melhor do que conheço minha própria respiração. Em um segundo, ele se choca contra um muro. Beco sem saída.
Engulo um riso seco. Eu gosto disso.
Ele se vira, os olhos esbugalhados como se ainda houvesse uma chance.
Eu desacelero, saboreando o momento. Engatilho a pistola. Aponto direto pra cara dele.
— Você já devia estar morto.
Ele levanta as mãos, trêmulo. A boca se abre, tentando formar palavras, alguma mentira inútil. Eu não ouço. Nem me importo.
Mas então… O telefone toca.
Minha mandíbula se contrai. O som ressoa alto demais no silêncio tenso do beco. Como uma interferência irritante no momento perfeito.
Eu prendo o ar por um segundo. O bandido percebe a hesitação, os olhos correm pela lateral do beco. Pensando em correr. Eu ergo a arma de novo. Ele congela.
O telefone não para. Solto um suspiro exasperado. Pego o aparelho, sem desviar a mira. O nome na tela me faz estremecer.
Merda. Por que ela tá me ligando agora?
Atendo, pressionando o telefone contra a orelha enquanto meus dedos continuam firmes no gatilho.
— Sério? Essa não é a melhor hora pra me ligar.
Do outro lado, a voz dela chega firme, inabalável. Sem pressa. Sem emoção.
Minha mandíbula se contrai mais. É sempre assim. Nunca pede desculpas por interromper. Como se não importasse o que estou fazendo—matar alguém ou beber um café—ela simplesmente… não se importa. Não do jeito que os outros se importam.
Ela nunca tentou me consertar. Nunca olhou pra mim como se eu fosse um monstro. Nunca demonstrou medo.
E, porra… Às vezes, isso me irrita mais do que qualquer julgamento.