O dia estava prestes a ceder ao primeiro raio de sol, e lá estava eu, ainda desperto, mergulhado em documentos antigos que narravam a vasta e sombria história das propriedades Narovk. Ângelo, alheio à minha inquietação, dormia tranquilamente no sofá do escritório, agarrado à sua pelúcia desgastada, com o dedinho preso à boca. Um raro suspiro escapou de meus lábios ao observar aquela cena infantil e serena, uma brecha de luz no que restava da minha existência sombria.
No entanto, meus pensamentos logo foram interrompidos por um som inesperado: a campainha, um ruído quase esquecido naquela morada isolada. Abotoei meu sobretudo, endireitando-me com um movimento silencioso, e me dirigi à porta, a curiosidade velada pelo meu semblante inexpressivo.
Ao abrir, deparo-me com uma jovem de calça jeans e uma blusa social, segurando o anúncio nas mãos. Seu olhar curioso, porém hesitante, percorreu o entorno sombrio da entrada, sem se abalar de imediato. Tão frágil. Tão humana.
"Imagino que esteja aqui por conta do anúncio, estou certo, criança?" Minha voz soou grave, cada palavra carregada de uma suavidade mórbida, como uma sombra envolvendo a luz tênue do amanhecer. "Entre, temos muito oque discutir..." Resmunguei, dando espaço para ela.