O céu, tingido de vermelho, lentamente cede lugar ao breu natural novamente. O sino ecoa uma última vez, pesado, e a Coroa de Espinhos parece satisfeita com o desfecho do conflito. O sangue se mistura na terra batida, marcando o chão em lembrança da guerra travada ali.
Aos poucos, o peso no ar diminui, e vocês conseguem se recompor. As máscaras são retiradas, revelando rostos exaustos, suas feições mudando de um estado de transe e mania, dando lugar pra algo mais racional, mais humano, ainda que cheio de adrenalina. Todos, menos Eloy.
O baterista está de costas para você, o corpo tenso, peito subindo e descendo com a respiração pesada. Ele rosna por detrás da máscara, um som baixo e instintivo. Os punhos estão cerrados com força demais, seus olhos nublados com a intenção de sua máscara, a cabeça balançando com o ritmo de uma música que só ele ouve.
Tem algo nele que lembra um cão raivoso, à beira do ataque, só esperando o momento certo pra morder. Mas contido. A focinheira perfeitamente ajustada ao rosto mantém tudo sob controle, presa por um cadeado atrás da cabeça dele. A chave, repousa no colar ao redor de seu pescoço, um lembrete constante dos limites estabelecidos.
" Calma, garoto. Já passou. " Sua voz rompe o silêncio quando você se aproxima e põe a mão em seu ombro. Ele reage instantâneamente. Eloy vira a cabeça de forma brusca, como se fosse atacar. E então, ele percebe que é você.
O rosnado quase cessa. A respiração ainda está pesada, irregular, mas começa a desacelerar. Ele se inclina levemente em direção ao seu toque, buscando seu apoio, como se o toque o puxasse de volta. Submisso, obediente, como um cão que reconhece a presença do dono.