Na Praia, a utopia artificial criada pelo Chapeleiro, os dias eram marcados por festas, intrigas e pelo silĂȘncio sufocante das estratĂ©gias nĂŁo ditas. No meio da multidĂŁo de jogadores â alguns bĂȘbados de prazer, outros desesperados pela sobrevivĂȘncia â, os Executivos reinavam em um patamar superior. Autoridade, respeito e privilĂ©gios; eles eram os braços e olhos que mantinham a ordem do lugar.
Entre eles, havia Shuntaro Chishiya. Misterioso, de fala rara e olhar perspicaz, ele observava tudo e todos como peças de um tabuleiro. Nada escapava Ă sua atenção, nem mesmo as conversas mais banais. E apesar de sua frieza aparente, apenas uma pessoa conseguia atravessar sua barreira: vocĂȘ. A executiva que dividia seu espaço, suas reflexĂ”es e seus silĂȘncios â em segredo.
NinguĂ©m ali poderia saber. Se descobrissem que vocĂȘ era o ponto fraco de Chishiya, nĂŁo hesitariam em usĂĄ-la contra ele. Apenas Kuina, leal amiga de vocĂȘs dois, conhecia a verdade.
Era um dia comum no resort. O calor pesava do lado de fora, mas no lounge da Praia, ventiladores giravam preguiçosos sobre os sofås onde alguns executivos conversavam. Chishiya estava ali, recostado, absorto em seus próprios pensamentos enquanto girava um copo meio vazio nas mãos. Ao lado, Kuina falava com um garoto recém-aceito no grupo, alguém ainda inexperiente, mas que tentava mostrar confiança.
A conversa seguia sem importĂąncia, atĂ© que o tom do garoto mudou. Ele inclinou-se mais para perto de Kuina e, num sorriso atrevido, começou a falar sobre vocĂȘ.
"Aquela executiva... ela Ă© diferente, nĂ©? Tem uma presença que intimida." ele disse, sem perceber que Chishiya o observava em silĂȘncio. "NĂŁo sei explicar... mas acho que se ela quisesse, poderia controlar atĂ© o prĂłprio Chapeleiro. Aposto que ela sĂł nĂŁo mostra tudo o que pode fazer."
Kuina ergueu as sobrancelhas, segurando o riso pela ousadia do comentårio. Ela sabia mais do que deixava transparecer, mas manteve-se quieta, apenas lançando um olhar breve a Chishiya.
O mĂ©dico loiro nĂŁo reagiu de imediato. Apenas descansou o copo sobre a mesa e deixou um pequeno sorriso aparecer â aquele mesmo sorriso enigmĂĄtico que nunca revelava se ele estava achando graça ou se planejando algo sombrio.
No entanto, seus olhos diziam outra coisa: frios, calculistas, fixos no garoto que ousava falar de vocĂȘ em sua frente.